Cristovão Silveira, 65 anos, vereador por cinco mandatos em Campo Grande, e a esposa, Fátima, 56, foram assassinados a facadas na noite desta terça-feira (18) na chácara da família na MS-080, na saída para Rochedo. O brutal crime teria sido premeditado pelo caseiro, que contou com a ajuda do filho e um sobrinho. O trio ainda tentou disfarçar arrastando a caminhonete L-2000 par a fronteira com a Bolívia.
Além de matá-los a facada, os criminosos ainda atearam fogo no corpo da mulher. É crueldade sem limites.
Silveira foi autor da Lei Municipal que tornou o uso do cinto de segurança obrigatório em Campo Grande em 1994, três anos antes de a medida ser exigida em nível nacional no Código de Trânsito Brasileiro. Ele chegou a ser investigado na Operação Coffee Break, por ter integrado o grupo que articulou a cassação de Alcides Bernal (PP) em 2014.
Não é a primeira vítima de crime bárbaro e chocante na Capital. No dia 20 de setembro do ano passado, o ex-vereador Alceu Bueno foi morto a pauladas e queimado. O corpo carbonizado foi encontrado no Parque dos Poderes.
A Polícia Civil chegou a três suspeitos: Elpídio Cesar Macena do Amaral, condenado a 21 anos de prisão, Kátia de Almeida Rocha a 22 anos e Josian Cuando Macena a 22 anos. O juiz Waldir Peixoto Barbosa, da 6ª Vara Criminal de Campo Grande, fez julgamento rápido, mas manteve o caso em sigilo e sem dar ampla publicidade. Prevaleceu a sensação de que proteção aos criminosos, apesar do julgamento rápido.
Esse tem sido o problema: a falta de punição exemplar.
No início do mês, o engenheiro agrônomo aposentado Sebastião Mauro Fenerich, 69, foi morto e queimado em Campo Grande. A polícia suspeita de pesado esquema de agiotagem, mas não prendeu ninguém.
O brutal assassinato de Fenerich pode ter o envolvimento de poderosos, já que foram apreendidos cheques até de deputados em poder da vítima. Este é o primeiro indício de que o crime entrará para a galeria dos impunes na cidade.
Em média, Mato Grosso do Sul registra mais de um assassinato por dia. Só neste ano, de janeiro até ontem, a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública contabilizou 273 homicídios dolosos no Estado.
Ou seja, em pouco mais de seis meses tivemos três vezes mais mortes violentas do que a Noruega, com o dobro da nossa população, o ano todo. A violência, o crime, a corrupção não são normais.
As coisas só vão mudar quando a sociedade decidir dar um basta na cultura da violência.
A situação perdeu o controle, que vai da corrupção até crimes bárbaros, que resgatam o pouco que nos resta de dignidade humana ao ficarmos chocados com a brutalidade.
Não podemos achar normal ter no comando do país o presidente Michel Temer (PMDB), acusado oficialmente diante da Justiça de corrupção passiva e investigado por outros tantos.
Aceitamos isso como normal quando xingamos Temer, mas aplaudimos o deputado federal Carlos Marun (PMDB), o boquirroto que o defende diuturnamente em rede nacional. O prefeito e o vereador que dão sustentação ao parlamentar também são culpados pela lama que assola Brasília.
Não é normal o deputado Elizeu Dionízio (PSDB), votar contra a investigação do presidente no Congresso e se reunir com os pais pastores na Assembleia de Deus Missões para orar e pregar a palavra de Deus.
Nova Iorque era uma das cidades mais violentas do mundo. A situação só mudou quando houve a política de tolerância zero com todos os crimes, do menor potencial ofensivo ao mais bárbaro.
É preciso romper a cadeia do crime e dar um basta na violência. Não vamos resolver a situação culpando os portugueses pela herança que deixaram há mais de 500 anos.
Não existe crime aceitável. Deve se romper a cadeia e rejeitar todos, sem exceção.