O PT vive a maior crise da sua história, apesar das vitórias em três décadas: maior partido de esquerda do Brasil e ter conquistado a presidência da República pelo voto popular por quatro eleições consecutivas. Em Mato Grosso do Sul, tido como a terra do boi, do latifúndio e extremamente conservador, o partido chegou ao comando do Governo duas vezes.
O autor da façanha no Estado foi o deputado federal Zeca do PT, a maior liderança do partido após a cassação e prisão de Delcídio do Amaral. Sem a sombra do ex-aliado e, agora, adversário, ele acabou sendo o único nome a unir os petistas sul-mato-grossenses e aceitou o desafio de presidir a legenda.
Apesar de estar inelegível, Zeca tem esperanças de derrubar a condenação por uma turma do Tribunal de Justiça e disputar o Senado, o sonho que acalenta desde 2006, quando não teve coragem de deixar o governo nas mãos da esquerda do partido, então representada pelo vice-governador Egon Krackeke. Aliás, esta é a principal mágoa de Delcídio com o ex-governador.
Mas não é só a condenação que está no caminho de Zeca. Ele é investigado pelo Supremo Tribunal Federal por suposta cobrança de R$ 400 mil de propina da Odebrecht, conforme delação homologada na Operação Lava Jato.
Também foi citado como pioneiro no esquema de cobrança de propina em troca de incentivos fiscais pelos donos da JBS. Aqui, vale citar que os empresários cometem injustiça, já que acusam, mas também reconhecem não possuir provas. Ou seja, jogam o nome do ex-governador na lama por fofoca.
No entanto, os eleitores de Mato Grosso do Sul podem ter Zeca no mesmo patamar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ou seja, apesar das denúncias e ações na Justiça, é a esperança dos mais pobres, dos trabalhadores, das minorias.
Apesar de engrossar o discurso contra a Reforma Trabalhista, sancionada nesta semana pelo presidente Michel Temer (PMDB), Zeca do PT não levou os ideais petistas para a prática. Só bastou assumir o comando do diretório regional, promoveu demissão em massa de trabalhadores e, pior, sem o menos lhes garantir salário e as rescisões contratuais.
Não basta o discurso de que o PT perdeu o fundo partidário, que rendia R$ 70 mil por mês. Como dirigente maior da sigla, ele deveria dar o exemplo, demonstrar humanidade, compaixão e senso de justiça com os companheiros demitidos, considerando-se que todos são militantes.
Zeca recorreu a tática de empresários caloteiros que tanto condena. Demitiu e acabou. Em entrevistas à imprensa, onde trava a guerra de versões, o ex-governador trata os demitidos como inimigos e não os trata como trabalhadores.
Não é a primeira vez que ele não repete na prática o discurso. Logo que assumiu o Governo do Estado, com o apoio dos ex-ministros Paulo Bernardo e Gleise Hoffmann, fez uma polêmica reforma administrativa e enfrentou a fúria dos sindicalistas, principais aliados do PT no Estado.
O ponto alto do confronto foi quando os manifestantes queimaram o boneco do então governador, que ficou contrariado e magoado com o episódio.
Este é um dos problemas de alguns dirigentes do PT: tratar os seus funcionários com a mesma dignidade que cobram para os demais trabalhadores brasileiros. É simples.
Só falta acordar, porque esta história de pregar uma coisa e fazer outra não engana mais ninguém.