Entre os 75 mil servidores públicos estaduais, que deverão ter reajuste linear de 2,94% após dois anos e meio sem correção nos salários, um não tem do que reclamar da gestão tucana. O policial militar Ricardo Campos Figueiredo, motorista do governador Reinaldo Azambuja, foi promovido três vezes por atos de bravura. Só no atual mandato do chefe, foram duas promoções em dois anos.
Em 2015, quando Reinaldo assumiu o chefia do Poder Executivo, Ricardo era cabo da Polícia Militar. Em 13 de abril do mesmo ano, ele foi promovido para 3º sargento da PM por ato de bravura, conforme publicação em Diário Oficial do Estado.
Pela legislação, o policial só teria direito a promoção após quatro anos e participar do curso de formação de sargentos.
A princípio, o decreto tucano só o livrou de participar o curso de formação, de aproximadamente seis meses, porque ele tinha tempo para ter direito a ascensão profissional, já que tinha sido promovido de soldado a cabo em 2007. Na época, outra coincidência: a promoção ocorreu por ato de bravura.
O governador da época, André Puccinelli (PMDB), promoveu o soldado para cabo porque ele interveio no conflito em Camapuã, quando um homem ameaçou a moradora da casa com carabina . Figueiredo negociou e acabou rendendo o bandido, que foi capturado com vida e sem causar qualquer ferimento na vítima.
Não bastasse ser promovido duas vezes por atos de bravura e coragem, o motorista do atual governador acabou recebendo outra promoção semelhante.
No dia 29 de junho deste ano, o policial militar foi contemplado com nova ascensão funcional, novamente por atos de bravura. Pela Lei Complementar 53/1990, alterada em 2015 pelo atual governador, ele só teria direito a promoção de 3º para 2º sargento após quatro anos, conforme alguns critérios, como antiguidade e merecimento.
O decreto deste ano diz o seguinte para justificar a promoção antes do tempo previsto: “por terem praticados atos não comuns de coragem e audácia que, ultrapassando os limites do cumprimento do dever, representam feitos indispensáveis às operações desenvolvidas pela PM, investigado pelo Conselho Especial”.
A redação da resolução está no plural porque contemplou os policiais José dos Santos de Moraes Palhano, Eugênio Barbosa e Luciano Mandadori.
Graças ao protagonismo, praticamente herói, por acumular três promoções por atos de bravura, Ricardo colheu frutos no salário. Somente com as duas promoções autorizadas por Azambuja, o subsídio teve aumento de 64%, de R$ 3,9 mil em 2014 para R$ 6,5 mil neste ano.
O valor não considera o pagamento como assessor da Segov (Secretaria Estadual de Governo e Relações Institucionais), que é de R$ 8,1 mil, conforme o Portal da Transparência. Para não ser injusto, O Jacaré verificou o pagamento feito nos meses de maio e junho deste ano.
No caso do 2º sargento há uma curiosidade. Se o cidadão conferir o portal com o nome que consta no Diário Oficial, o Portal da Transparência aponta que este servidor não existe. Já se substituir o “G” pelo “Q” no Figueiredo, surge o nome completo.
A promoção do policial foi divulgado pelo site Top Mídia News e causou fúria no restante da tropa. Os demais policiais militares só tiveram o abono de R$ 200, em maio do ano passado, e poderão ter aumento de 2,94% em outubro deste ano. A categoria acumula defasagem salarial de 19,9% desde a posse do atual governador.
O carinho dispensado ao “sargento herói” não é o mesmo dado aos demais. O coronel Alírio Villasanti, presidente da Associação dos Oficiais, vai responder a sindicância porque criticou a não concessão do reajuste pelo governador Reinaldo Azambuja.
O tucano pode punir o coronel por ter defendido apenas um direito da tropa, o de ter os salários corrigidos pela inflação dos últimos três anos.
Governo diz que “atos de heroísmo” ocorreram em 2010 e 2012
O Governo estadual defendeu a promoção do policial militar Ricardo Campos Figueiredo, promovido duas vezes no intervalo de dois anos e dois meses. Os atos de bravura foram praticados nos anos de 2010 e 2012.
O primeiro ocorreu em Campo Grande, quando houve troca de tiros com bandidos e um dos policiais acabou baleado. Ricardo teve o mérito reconhecido pelo Conselho Especial da PM, constituído para analisar se mereceria a promoção, que acabou se concretizando cinco anos depois, em abril de 2015.
O segundo fato ocorreu em 2012 quando Ricardo integrava o DOF (Departamento de Operações de Fronteira). Ele teve o trabalho reconhecido por fazer o parto de uma gestante na rodovia entre os municípios de Paranhos e Tacuru. De acordo com a assessoria do Governo, a família da mulher intercedeu pelo reconhecimento do policial.
Sobre a troca da letra “G” pelo “Q” no sobrenome do sargento, o que dificulta a localização no Portal da Transparência, o Governo não vê maldade, mas apenas “erro de digitação” como causa mais provável.
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