O ex-senador Delcídio do Amaral caiu em desgraça, mas tentou meios de aliviar a pena. A primeira estratégia para aumentar o poder de barganha na delação premiada fracassou. Nesta terça-feira, o procurador regional da República no Distrito Federal, Ivan Marx, arquivou o inquérito contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por tentar obstruir as investigações da Operação Lava Jato.
Para o procurador, ficou claro na investigação que o sul-mato-grossense citou o nome de Lula para aumentar o poder de barganha junto ao procurador regional da República, Rodrigo Janot.
Conforme a delação premiada de Delcídio, homologada pelo ministro Teori Zavascki,do Supremo Tribunal Federal, Lula convocou o ex-petista e os senadores Renan Calheiros e Edison Lobão, ambos do PMDB, para reunião em 2015 no Instituto Lula. Na ocasião, o petista teria recomendado aos senadores que adotassem medidas para causar embaraços à Força-Tarefa da Lava Jato, extinta na semana passada pela Polícia Federal.
Convocados para esclarecer a denúncia, Renan e Edison Lobão negaram, de forma categórica, que Lula tenha orientado a obstruir a investigação de denúncias de corrupção na Petrobras.
Em novo depoimento ao procurador Ivan Marx, o próprio Delcídio deu margem ao arquivamento do inquérito. Ele relatou ao MPF que Lula deu a entender de que os três senadores deveriam criar embaraços, mas não teria sido objetivo nem claro sobre criar transtornos aos procuradores de Curitiba.
Na conclusão, Marx conclui que o ex-senador usou o nome de Lula para aumentar o poder de barganha na delação premiada.
O arquivamento é mais uma derrota para o ex-petista, que chegou a ser preso por supostamente comprar o silêncio de Nestor Cerveró e evitar a delação premiada. Na época, líder do Governo Dilma Rousseff (PT) no Congresso, ele foi cassado pelo Senado.
A outra derrota para Delcídio foi o arquivamento do pedido de cassação do senador Aécio Neves (PSDB) na Comissão de Ética do Senado. Até o seu suplente e amigo, Pedro Chaves (PSC),votou pelo arquivamento do processo contra o tucano.
Delcídio tinha esperanças do Supremo decretar a prisão preventiva de Aécio, que chegou a ser gravado cobrando R$ 2 milhões em propina do empresário Joesley Batista. A Polícia Federal chegou filmar o Frederico Pacheco, assessor e primo de Aécio, recebendo a fortuna em uma mala de dinheiro e ainda rastreou todo o caminho da propina.
Aécio ainda chegou a ser gravado defendendo que o assessor deveria ser alguém que pudesse matar para evitar delação premiada.
O sonho do ex-senador sul-mato-grossense era acompanhar no plenário do Senado a votação da cassação do mandato de Aécio.
Para azar de Delcídio – e de todos nós, brasileiros – o ministro Marco Aurélio de Mello, do STF, não só negou o pedido de prisão, como devolveu o mandato e ainda classificou o mineiro como político exemplar.
Lula ainda não está livre de ações na Justiça nem de investigações do MPF. Ele ainda é investigado por procuradores em Curitiba e Brasília.
Assim como Delcídio e Aécio, Lula também nega ter cometido qualquer irregularidade e promete provar a honestidade na Justiça.