Os escândalos de corrupção deixaram parte dos moradores de Mato Grosso do Sul indignados desde os desdobramentos das operações Lava Jato e Lama Asfáltica. No entanto, a mesma indignação não parece ter atingido a Polícia Federal e o Poder Judiciário no Estado. Apesar de tudo, a corporação acha que o mais importante é saber quem foi o autor de pegadinha eleitoral nas eleições de 2016.
Os eleitores devem se lembrar da brincadeira no segundo turno do ano passado, disputado entre Marquinhos Trad (PSD) e a vice-governadora Rose Modesto (PSDB). Na ocasião, eleitores do atual prefeito dispararam pelo whatsapp de que a Justiça Eleitoral tinha dividido a votação em dois domingos: os votos de Trad deveriam ser depositados no dia 30 de outubro, enquanto os tucanos deveriam votar só no primeiro domingo de novembro.
Com a propaganda massiva da Justiça Eleitoral e do segundo turno, que perdurou até sexta-feira, nenhum eleitor teve dúvidas de que o último domingo de outubro era o correto.
No entanto, os assessores jurídicos de Rose Modesto levaram a brincadeira a sério e protocolaram denúncia à Justiça Eleitoral, que entrou na onda e determinou a investigação.
Desde então, uma equipe da PF se desdobra em descobrir quem foi o autor intelectual da pegadinha, que com exceção da corporação, ninguém mais levou a sério.
Este foi o motivo da ida do corretor de imóveis Urias Fonseca da Rocha, 55 anos, à Superintendência da Polícia Federal na tarde de sexta-feira. A história não teve nada a ver com o juiz federal Odilon de Oliveira, que contratou dois advogados para exigir a retratação porque foi alvo de críticas em dois grupos de whatsapp. O magistrado ficou furioso porque Urias disse “ter certeza de que ele nunca foi santo”.
O delegado Fernando Rocha Rodrigues tentou descobrir de Urias quem iniciou a brincadeira, de que os eleitores de Trad votariam em um domingo e os de Rose, em outro. A preocupação era descobrir se foi alguém da equipe do prefeito, do PCdoB ou o próprio corretor de imóveis.
A pegadinha virou mania nacional e ocorreu em outras cidades com segundo turno. Urias teria dito ao delegado que recebeu de amigos e a espalhou para amigos.
Enquanto a PF de Mato Grosso do Sul desvenda a esfinge da pegadinha, a corporação no Rio de Janeiro dá exemplo de atuação no combate à corrupção. O ex-governador Sérgio Cabral e trupe já foram denunciados mais de 10 vezes e até condenados em primeira instância.
No entanto, por essas bandas, a investigação segue a passos lentos. A Operação Lama Asfáltica completa dois anos neste mês, mas sem ter ao menos absolvido ou condenado os envolvidos no escândalo. As investigações já contabilizaram desvio de R$ 200 milhões dos cofres públicos.
Apesar do ministro Edson Fachin ter encaminhado em abril os casos de corrupção envolvendo suspeitos sem foro, não se tem notícia da abertura de investigação para apurar as denúncias apontadas na delação da Odebrecht.
Neste caso, somente os casos envolvendo os deputados Zeca do PT e Vander Loubet, conduzidos pela Polícia Federal do Distrito Federal, já foram concluídos. Pelo menos, os delegados já devolveram o processo para análise de Fachin.
O ex-governador é acusado de ter cobrado R$ 400 mil para a campanha de 2006, quando o PT lançou o ex-senador Delcídio do Amaral para o Governo. Vander teria recebido R$ 50 mil.
Em maio outra bomba, a delação da JBS, mais políticos sem foro citados. No entanto, apesar de o montante da propina envolvida ser alto, não houve abertura de investigação.
O mais desconsolador é que o problema não está apenas na PF. Apesar da gravidade das denúncias, a Lama Asfáltica, por exemplo, que mira ex-governador André Puccinelli (PMDB) e poderosos da política estadual dos últimos 20 anos, o caso é conduzido por um juiz jovem e substituto. Fábio Luparelli está no cargo há cerca de um ano.
A Justiça Federal brasileira não está restrita ao brilhantismo e à agilidade do juiz Sérgio Moro, de Curitiba (PR). As investigações contra a corrupção estão incensando os políticos suspeitos com velocidade invejável e impressionante no Rio de Janeiro e no Mato Grosso.
Só falta a mesma agilidade em Mato Grosso do Sul.
A demora nas investigações é ruim até para os suspeitos, porque acabam arcando com o ônus que não merecem.
Ou alguém acha que não houve danos para a imagem do ex-governador André Puccinelli, principal nome do PMDB, as denúncias de que cobrou R$ 2,3 milhões da Odebrechet, R$ 112 milhões da JBS?
O peemedebista tem ressaltado que a verdade vai aparecer e provar sua inocência. Ou seja, não é só povo que cobra pressa na apuração das denúncias.
No entanto, só uma investigação séria vai mostrar quem sobreviverá ao purgatório e terá condições de conduzir a política sul-mato-grossense livre da corrupção, considerada câncer e a principal causa do nosso atraso.