O voto do senador Pedro Chaves (PSC) para absolver o tucano Aécio Neves, flagrado cobrando R$ 2 milhões em propina e defendendo a obstrução da maior operação de corrupção da história brasileira, e o fim da força-tarefa da Polícia Federal para investigar as denúncias apuradas na Operação Lava Jato, mostram a vitória da ofensiva para manter os velhos esquemas na política brasileira.
O dia 6 de julho de 2017 foi marcado pelo escárnio dos políticos envolvidos em esquemas de corrupção, o dia do deboche.
Alçado ao cargo sem voto, Chaves nunca disputou foi testado nas urnas. Em outros tempos, poderia ser eleito, como foi o titular da vaga, Delcídio do Amaral, que chegou a ser preso no exercício do mandato tentando comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras.
O ex-senador sentiu a força das denúncias de corrupção ao perder a eleição de governador, onde foi favorito do início do pleito até a abertura das urnas no segundo turno. Perdeu para o atual governador Reinaldo Azambuja (PSDB) ao ser bombardeado pelo suposto envolvimento no esquema de corrupção na Petrobras.
Como tem ligações com a família do pecuarista José Carlos Bumlai, nunca se esperou algo diferente de Pedro Chaves. O senador até ensaiou integrar a trupe da nova política ao assinar o pedido para desarquivar o pedido de cassação de Aécio. Até fez jornais publicarem seu ponto de vista.
O ensaio não resistiu a uma reunião com o presidente Michel Temer (PMDB), o primeiro presidente da história denunciado por corrupção e investigado por obstruir investigação e liderar uma organização criminosa.
Na manhã de hoje, ao votar junto com outros 10 senadores para arquivar o pedido de cassação do senador mineiro, Chaves ignorou as evidências. Em gravações feitas pela Polícia Federal, Aécio defende o fim da Lava Jato, articula a anistia para todos os corruptos delatados na operação e ainda cobra R$ 2 milhões em propina.
As evidências chegam ao cúmulo de contar com imagens do dinheiro, que foi rastreado e depois devolvido, R$ 2 milhões em uma mala.
Coincidentemente, o pedido foi rejeitado no mesmo dia em que a Polícia Federal confirma o fim da força-tarefa da Lava Jato. A investigação chegou a ter nove delegados. Agora, vai ficar sem nenhuma equipe com dedicação exclusiva.
Pedro Chaves vai entrar para a história como o parlamentar sul-mato-grossense que participou da manobra do líder do Governo no Congresso, Romero Jucá (PMDB), que defendia o fim da Lava Jato.
Conforme o esquema revelado em gravações feitas pelo ex-senador Sérgio Machado, o grupo planejou tirar Dilma Rousseff (PT) e o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal. A petista foi cassada há um ano. O ministro morreu em misterioso acidente aéreo.
O problema é que Pedro Chaves não é o único a apostar que a corrupção faz parte da alma brasileira – no frigir dos ovos, este critério não deve pesar na hora do eleitor definir o voto em 2018.
Com esta mesma linha de pensamento, o ex-deputado federal Edson Giroto faz campanha pelo interior para retornar a um cargo eletivo em 2018.
O ex-governador André Puccinelli (PMDB), segundo político a usar tornozeleira eletrônica e investigado por corrupção pela Polícia Federal, continua sendo o principal nome do PMDB para disputar o Governo.
Apontado pela JBS como destinatário de R$ 38,4 milhões em propinas, Reinaldo articula a pleno vapor a campanha pela reeleição.
Defensor fanático de Eduardo Cunha (PMDB), condenado a 15 anos por corrupção, de Michel Temer e Puccinelli, o deputado federal Carlos Marun (PMDB) é ovacionado por prefeitos, vereadores e eleitores pelas andanças pelo interior do Estado e na Capital.
Ou seja, na lama em que a política brasileira se transformou, tem muito político apostando que não está nadando sozinho, ou seja, tem muito eleitor sujo de lama para lhe dar respaldo nas próximas eleições.
Lá vamos poder verificar quem acha que uma mala com R$ 500 mil e uma gravação dando aval para comprar silêncio de corrupto não são evidências de crime. Ou melhor, quem acha que o povo é bobo, acompanhe aqui.
Por exemplo, tem o contato do tucano Elizeu Dionizio (PSDB), que se diz evangélico e está indeciso. Ajude o jovem parlamentar a se decidir sobre o futuro do atual presidente.