Bom articulador político e desesperado com o risco de não conseguir os votos para evitar o julgamento por corrupção passiva pelo Supremo Tribunal Federal, Michel Temer (PMDB) transformou o Palácio do Planalto em um balcão de negócios. Disposto a garantir o voto do deputado federal Elizeu Dionizio (PSDB) na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, ele recebeu o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o senador Pedro Chaves (PSC).
Na articulação do peemedebista, o primeiro presidente na história denunciado ao Supremo por corrupção passiva, está garantir a rejeição da denúncia na comissão. Segundo o jornal O Globo, 17 deputados já se posicionaram pela aceitação da denúncia, enquanto cinco são contra. Dez estão indecisos e 34 não se pronunciaram.
No desespero, o presidente recebe ex-deputado federal Valdemar da Costa Neto, condenado no Mensalão e influente na bancada do PR, na calada da noite e sem registro na agenda oficial. Paulo Maluf (PP), condenado a prisão por lavagem de dinheiro, foi oficializado depois que o encontro vazou na imprensa.
O governador Reinaldo Azambuja, citado na delação da JBS por ter recebido R$ 38,4 milhões em propina, foi recebido no início da tarde de ontem. Oficialmente, segundo a assessoria do tucano, eles trataram da revisão da Lei Kandir e a repactuação das dívidas com o BNDES.
A Lei Kandir , que isenta os produtores primários destinados à exportação da cobrança do ICMS, é um eterno problema para o Estado e é queixa favorita dos governadores desde a sua implantação em 1996, mas a solução nunca ocorreu. A estimativa atual é de que a perda de Mato Grosso do Sul beire os R$ 6 bilhões.
Com o BNDES, a encrenca é o adiamento do pagamento da dívida em cinco anos, o que representaria um alívio financeiro de R$ 15 milhões por mês ao Estado.
No entanto, o encontro de ontem foi político e tinha um único objetivo, salvar o mandato de Temer, acusado de cobrar propina da JBS. O então assessor do presidente, o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB), foi filmado pegando uma mala com R$ 500 mil. Apesar das evidências da corrupção, o presidente alega que faltam provas.
O governador tem poder suficiente para definir o voto do deputado Elizeu Dionízio. Investigado por liderar uma organização criminosa, Michel Temer sabe disse e joga pesado para conseguir os seus objetivos.
Dionizio é suplente do secretário estadual de Fazenda, Márcio Monteiro. Ou seja, com uma canetada, Reinaldo pode lhe tirar o mandato do deputado. Se ele se recusar a votar com o presidente denunciado por corrupção, poderá ser substituído temporariamente na Câmara dos Deputados.
A negociação deixa Elizeu Dionizio, que é jovem, evangélico e tem uma carreira brilhante como integrante do grupo denominado cabeças pretas tucanos, numa sinuca de bica.
Oficialmente, ele ainda não se manifestou sobre a robusta denúncia contra Temer. No entanto, foi um dos deputados tucanos que assinaram o pedido de impeachment do atual presidente após a delação da JBS.
Como parte para conquistar os tucanos, Temer recebeu ainda o senador Pedro Chaves, que assinou o pedido contra o senador Aécio Neves (PSDB), com uns 10 inquéritos sobre corrupção no Supremo.
O PMDB repete a chantagem feita com a presidente Dilma Rousseff (PT), de que dariam prosseguimento ao impeachment de o seu partido apoiasse a cassação de Eduardo Cunha. Agora, a moeda de troca é o mandato de Aécio, ou seja, os tucanos salvam Temer, que os peemedebistas ajudam o mineiro no Senado.
No entanto, os deputados não terão vida fácil para votar a favor de Temer. O procurador Geral da República, Rodrigo Janot, tem mais duas denúncias na manga contra o presidente: obstrução da Justiça e organização criminosa.
Será que Elizeu Dionizio, eleito com o apoio expressivo dos evangélicos, vai fechar os olhos para as evidências para salvar um presidente totalmente impopular?
O que dirá o jovem deputado quando chegar diante de Deus no julgamento final?