O Governo estadual esticou ao máximo a negociação com os sindicatos e anunciou, nesta segunda-feira, reajuste salarial de apenas 2,94%, mas somente a partir de outubro deste ano. Além de não repor a defasagem salarial do funcionalismo, que está acumulada em 20%, o índice é o menor entre os estados que concederam reposição salarial neste ano.
Com o Governo acuado por denúncias de corrupção, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) reuniu-se com representantes de 39 categorias. Ele argumentou que o índice pífio, que não repõe a inflação oficial acumulada nos últimos 12 meses, de 3,60%, conforme o IPCA, calculado pelo IBGE, é a proposta final e terá impacto de R$ 11 milhões.
O tucano postergou ao máxima a negociação com os servidores. Inicialmente, a proposta era apenas prorrogar o pagamento de abono de R$ 100 a R$ 250 até dezembro de 2018. No entanto, os sindicatos recusaram a proposta e os deputados engrossaram o coro de descontentes.
Desde que assumiu o governo, em 1º de janeiro de 2015, Azambuja não autorizou reajuste salarial. No primeiro ano, ele responsabilizou o antecessor, André Puccinelli (PMDB), que promoveu correções nos salários de várias categorias.
No ano passado, o tucano responsabilizou a crise econômica e negociou o pagamento de abonos, retomando uma praticada adotada no segundo governo de Wilson Barbosa Martins (PMDB).
Neste ano, ele apelou para a crise no gás natural importado da Bolívia, mas não convenceu. Enfraquecido pelas denúncias de corrupção divulgadas em maio, no qual os donos da JBS o acusam de cobrar R$ 38,4 milhões em propinas, o governador retomou a negociação, mas esticou o prazo ao máximo.
Pressionado pelos 75 mil servidores públicos, Reinaldo apresentou hoje a proposta de reajuste de 2,94%. O índice não repõe a inflação de 19,9% acumulada desde a posse.
O Governo ainda recorreu a argumentos falsos, digamos assim, para convencer o funcionalismo a aceitar o índice pífio.
“Nenhum estado brasileiro deu qualquer tipo de reajuste”, afirmou, taxativamente, o secretário estadual de Governo e Gestão Estratégica, Eduardo Riedel. Ele citou o Mato Grosso, comandado pelo tucano Pedro Taques. No entanto, o estado vizinho corrigiu em 7% a 10% os salários dos servidores estaduais no ano passado.
O reajuste proposto por Reinaldo a partir de outubro é o mais baixo no País. Na Paraíba, o governador Ricardo Coutinho autorizou reajuste de 5% a 13,57% em janeiro deste ano.
Renan Filho (PMDB) concedeu aumento de 6,29 % aos funcionários de Alagoas, sendo 3,15% neste mês e 3,14% em dezembro.
Os mais revoltados são os professores, que não tiveram os salários corrigidos em janeiro, conforme prevê acordo firmado em 2015 com o atual governador. Eles já aprovaram indicativo de greve na volta das aulas no segundo semestre.
A greve foi a arma dos trabalhadores em educação de Goiás dobrar o governador Marconi Perillo (PSDB). Para por fim à paralisação de 41 dias, ele propôs reajuste de 7,64% a 34% aos professores e técnicos administrativos no mês passado.
Azambuja ainda aposta que os servidores não terão força suficiente para promover greve por tempo indeterminado. Ele recorre ao argumento de que a crise é grave e o limite dos gastos com pessoal está próximo do limite previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal.
Além de não conseguir resolver o problema do déficit nas contas estaduais, o governador e sua equipe estão acuados por denúncias de corrupção.
Ao deixar a reunião na Governadoria, o secretário estadual de Fazenda, Márcio Monteiro, sentiu na pele o clima. Servidores o saudaram com os gritos de “ladrão”. Ele teria emitido notas falsas, como produtor rural, para esquentar a propina paga pelo JBS ao governador, segundo a denúncia feita por Joesley Batista.
Confira os reajustes concedidos por alguns Estados
Ceará
2% a 6,29% para todos os servidores
Professores tiveram alta de 7,64%
Mês e janeiro
Pernambuco
Correção de 25% a 40% nos salários dos policiais militares e bombeiros, parcelados em três vezes (maio deste ano, abril e dezembro de 2018)
Acre
7,7% a 8,8% para os servidores da saúde em maio
Maranhão
6,3% para todos os servidores
8% aos docentes
Paraíba
5% a 13,57% em janeiro de 2017
Goiás
21% para técnicos administrativos da educação
7,64% a 34% aos professores
Alagoas
6,29% em duas parcelas, sendo 3,15% em junho e 3,14% em dezembro de 2017
São Paulo
10% para os professores do ensino fundamental