Para qualquer trabalhador brasileiro, o pagamento mensal de R$ 15.031,76 – que representa 16 salários mínimos – seria suficiente para honrar e dedicar-se integralmente à função. No entanto, não para os vereadores de Campo Grande. Apesar da falta de tempo para cumprir o expediente, quatro parlamentares não abriram mão do cargo público anterior para engodar os salários.
Só o vereador André Salineiro (PSDB) tem conduta exemplar e abriu mão do salário de vereador e optou pelo de policial federal. Eleito na onda que levou milhares às ruas no movimento por mais ética na política, Vinícius de Siqueira (DEM) já se arrependeu de ter aberto mão do salário de oficial de Justiça.
Wellington de Oliveira (PSDB) conta com respaldo da Polícia Civil para acumular os dois cargos, de vereador e de delegado. Como parlamentar, ele frequenta às sessões no legislativo no período da manhã, três vezes por semana, e recebe R$ 15 mil por mês. Além disso, ele ganha verba indenizatória, reduzida pela Justiça de R$ 16,8 mil para R$ 8,4 mil por mês.
Além disso, ele continua na ativa como delegado, no qual recebe R$ 30,6 mil mensais. O chefe de gabinete do parlamentar, delegado Miguel Said, explicou que ele é lotado na Delegacia Geral de Polícia Civil, onde despacha no período da tarde. Para ser lotado como coordenador do Departamento de Polícia da Capital, ele obteve o aval do Conselho Superior da corporação e parecer favorável da PGE (Procuradoria Geral do Estado).
De acordo com o edital do concurso da Polícia Civil, o delegado deve cumprir jornada semanal de 40 horas, o que significa oito horas por dia. Entretanto, Wellington explicou que ele obteve autorização para cumprir expediente por 6h a ainda realiza sete plantões de 12h por mês (84 horas). Ele prioriza a carreira de delegado. Na Câmara, o tucano procura não faltar às sessões realizadas de terça a quinta-feira no período matutino.
Apesar disso, Miguel Said ressaltou que o Wellington é um dos vereadores mais atuantes no legislativo municipal, com a apresentação de 487 indicações para atender pedidos da comunidade e 13 projetos de lei. Ele ainda subescreveu outras 16 propostas apresentada pelos colegas do legislativo.
O Jacaré já citou outro tucano, Antônio Cruz, que se denomina “escravo do povo”. Além de vereador, ele administra o próprio hospital, o Evangélico. No entanto, quem paga o seu salário de “dono” é o município, que lhe garante um salário mensal de R$ 4.074,71.
Outro que acumula a função de vereador com a de médico é Wilson Sami (PMDB), empossado após a renúncia de Paulo Siufi para assumir a vaga na Assembleia Legislativa. Para engrossar o salário de vereador, Sami cumpre religiosamente as 20 horas semanais no posto de saúde do Bairro Silvia Regina. A prefeitura lhe paga R$ 7,5 mil por mês.
Valdir Gomes (PP) recebe R$ 21,1 mil por mês, sendo R$ 15 mil da Câmara e R$ 6.168,01 como professor da rede municipal de ensino. O parlamentar foi procurado para informar onde trabalha para ter direito ao salário de docente, mas sua assessoria não se manifestou até a publicação desta matéria.
Vinicius de Siqueira se arrependeu de ter pedido licença do cargo de oficial de Justiça para exercer o mandato de vereador. Tentando construir a carreira como baluarte da luta contra a corrupção, o democrata não anda contente com os 16 salários mínimos que recebe por mês.
O Jacaré apurou que ele protocolou o pedido para voltar a trabalhar como oficial de Justiça na Capital. O parlamentar argumentou que tem condições de cumprir a jornada como vereador e como funcionário do Poder Judiciário. A solicitação está na mesa do presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Divoncir Shreiner Maran.
Como oficial de Justiça, Siqueira recebeu R$ 12,4 mil em dezembro do ano passado, conforme a última publicação de salários feita pelo Judiciário. A jornada de oficial é de seis horas por dia ou cumprir a meta de entregar 120 mandados por mês. Ele foi procurado, mas não se manifestou.
Já o tucano André Salineiro tem adotado conduta exemplar e para orgulhar os brasileiros. Policial federal de primeira classe, ele recebe R$ 17,8 mil por mês da corporação, conforme o Portal da Transparência da União.
Salineiro abriu mão do vencimento como vereador, o que poderia lhe dobrar a renda mensal. Um ótimo exemplo, pena que só foi um entre os 29 integrantes do legislativo municipal.