Investigação feita pela Força-Tarefa do MPE (Ministério Público Estadual) revela o esquema milionário montado pelo então secretário municipal de Infraestrutura, João Antônio De Marco, para beneficiar as empresas do concunhado, do afilhado e até de ex-sócios com contratos da operação tapa buracos. Eles ganharam R$ 60,8 milhões da Prefeitura Municipal de Campo Grande.
Detalhes da investigação, conduzida por cinco promotores de Justiça, constam da denúncia contra a LD Construções, De Marco e o ex-prefeito Nelsinho Trad (PTB), entre outros, em que o MPE pede o bloqueio de R$ 369 milhões para garantir o ressarcimento dos prejuízos causados aos cofres públicos.
O inquérito desfaz a imagem do ex-secretário, sempre metódico e técnico. Ele agiu para beneficiar a Diferencial Engenharia, que tinha entre os sócios Acir Magalhães. A empresa faturou R$ 23,7 milhões da prefeitura em contratos de manutenção da pavimentação das ruas e avenidas.
De acordo com o MPE, Acir é casado com Rosmany Scaff Fonseca, irmã da ex-gerente do Banco Rural e esposa de De Marco, Liliana Scaff Fonseca.
Outra coincidência no caso da Diferencial era de que o responsável técnico era o engenheiro Sandro Beal, que seria irmão do empreiteira João Amorim, que foi o responsável pelas finanças das campanhas de André Puccinelli (PMDB) e do então cunhado, Nelsinho.
Amorim, irmão da deputada estadual Antonieta Trad (PMDB), que era esposa de Nelsinho no período em que ele foi prefeito.
De Marco contemplou a Gradual Engenharia, que tinha entre os sócios o seu afilhado, Caio Vinicius Trindade, conforme a conclusão dos promotores. Graças ao padrinho, a empresa obteve R$ 8,328 milhões em contratos para tapar os buracos nos bairros Aero Rancho e Guanandi, os mesmos da LD Construções, de Luciano Potrich, genro de João Amorim.
A Selco Engenharia firmou dois contratos com a prefeitura em 2012 e ganhou R$ 28,717 milhões. Além de ser a famosa empresa responsável pelo escândalo nacional em 2015, de protagonizar no Fantástico, da TV Globo, tapando os buracos fantasmas, a empreiteira pertence a Uilson Domingos Simioli, Abimael Lossavero e Gerson Nina Prado.
De acordo com a investigação do MPE, os três foram sócios do então secretário por mais de 10 anos na empresa Juhá Engenharia Ltda, que tinha contratos com a prefeitura para realizar os serviços de manutenção da iluminação pública.
Os promotores concluíram que as três empresas fizeram parte do esquema do tapa buraco, que rendeu R$ 372 milhões entre 2012 e 2015. As empresas não eram fiscalizadas e não realizavam o serviço de acordo com as normas técnicas, que previam o recorte do asfalto, a compactação e a colocação da massa betuminosa.
Conforme depoimentos anexados aos autos, o valor a ser pago pelo serviço era definido pelo secretário. Os fiscais do município tinham a missão apenas de ligar para as equipes de rua e ouvi-las por telefone para emitir os laudos de fiscalização.
O MPE já ingressou com duas ações contra as empresas, funcionários públicos e políticos em decorrência da investigação da máfia do tapa buraco. A Justiça já decretou a indisponibilidade dos bens na primeira ação e analisa o pedido na segunda.