A equipe da Prefeitura de Campo Grande praticamente ignorou a reportagem do Fantástico, programa dominical da TV Globo, que mostrou operários tapando buraco inexistente. Não bastasse minimizar o escândalo nacional, o engenheiro João Parron elaborou “laudo a distância” para sepultar qualquer investigação sobre a operação tapa buraco.
A conclusão consta de investigação feita pela Força-Tarefa do MPE (Ministério Público Estadual), composta por cinco promotores de Justiça, e que resultou na denúncia de superfaturamento de R$ 26,5 milhões nos contratos firmados com a LD Construções.
Só que o caso envolve a Selco Engenharia, cuja equipe realizou a operação tapa buraco “fantasma” na Travessa Fernando Hugo Rodrigues, no Jardim Veraneio, na saída para Três Lagoas, em janeiro de 2015. Na época, o prefeito da ocasião era Gilmar Olarte.
De acordo com perícia realizada pelo MPE, a equipe da Selco apenas jogou a mistura betuminosa sobre trincas no asfalto. Não houve recorte nem remoção para preencher com a lama asfáltica.
O ex-funcionário da empreiteira, Elton Faria dos Santos, com experiência de uma década no serviço, contou que só fez a aplicação da mistura betuminosa no pavimento trincado. Ele explicou que o ideal era fazer o recorte, a compactação e aplicação da bica corrida antes de por o CBUQ. Até o escândalo, nunca houve fiscalização da operação tapa buraco em Campo Grande, segundo o depoimento do operário.
O mais grave, de acordo com a Força-Tarefa do MPE, foi que o engenheiro João Parron, responsável pela fiscalização, emitiu um laudo para atestar que o serviço ocorreu conforme as normas técnicas. O mais grave, ele não foi ao local para conferir o trabalho e só fez o documento para “sepultar as investigações”.
Em depoimento aos promotores, Parron admitiu que elaborou o laudo com base nas informações repassadas pela equipe da Selco, a empreiteira acusada de tapar buraco inexistente.
Ele ainda admitiu que toda a fiscalização é feita pelas empresas contratadas pelo município, que consumiram R$ 372 milhões entre 2012 e 2015. O pagamento não era feito pela quantidade de buracos tapadas ou pelos milhares de metros quadrados, mas somente com base na quantidade de CBUQ que saia das usinas.
Aliás, conforme os promotores, as usinas eram as mesmas que escolhiam as vencedoras das licitações, já que só poderiam participar quem produzisse o CBUQ ou tivesse anuência de um fornecedor localizado a menos de 50 quilômetros da cidade.
Com base na denúncia feita na semana passada à Justiça, que pediu o bloqueio de R$ 369 milhões do ex-prefeito Nelsinho Trad (PTB) e mais 27, conclui-se que a equipe de Olarte se lixou para o Fantástico.
E a população,que sofre diariamente com os buracos, só restou a indignação com o dinheiro jogado no ralo com os investimentos feitos na operação tapa buraco.
O mais grave é que os atuais gestores continuam cegos diante da ineficiência do trabalho realizado. O secretário adjunto de Infraestrutura, Ariel Serra, até deu entrevista garantindo que o material tinha garantia de cinco anos. No entanto, basta uma chuva, que não precisa durar nem cinco dias, para que toda a buraqueira retorne a causar transtornos e até tragédias nas ruas de Campo Grande.