Caso fracasse o pedido de habeas corpus para cancelar a delação premiada da JBS, que pode livrar todos os políticos corruptos no maior esquema da história da República, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) quer ser investigado pela versão sul-mato-grossense do ministro Gilmar Mendes.
Segundo o jornal Midiamax, a petição encaminhada ao ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, o governador tucano apela para que não seja investigado pela Polícia Federal e pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), em tese, os únicos órgãos ainda isentos no caso.
O sonho de Reinaldo é ser investigado pelo MPE (Ministério Público Estadual), formado pelos procuradores de Justiça que emitiram um atestado de inocência preventivo, digamos assim. Durante a reunião com o chefe do Poder Executivo, os nobres promotores teceram elogios à sua conduta.
Apesar das denúncias serem gravíssimas, de que o governador em pessoa recebeu propina de R$ 38,4 milhões em troca da concessão de incentivos, os procuradores deram entrevista absolvendo-o por antecedência.
O procurador geral adjunto, Humberto Brites, chegou a apontar o motivo para a denúncia ser inverídica: com um patrimônio oficial declarado de R$ 38,5 milhões, o tucano não tinha motivos para se corromper. Não tinha mesmo. Contudo, a população tem conhecimento de que para a ganância humana não há limites.
O irônico da história é que Brites, o mais ardoroso defensor do governador, foi o responsável pelo comunicado de que o MPE vai investigar o governador. Ele se viu obrigado ao revide porque a TV Globo publicou mais denúncias, de mais empresários, que acusam a existência da “república da propina” na Governadoria.
Brites ou o chefe do MPE, Paulo Cezar dos Passos, que também se manifestou sobre a inocência de Azambuja, vão conduzir a eventual investigação. Ou seja, já são candidatos a atuarem como a versão sul-mato-grossense de Gilmar Mendes do governador de MS, ou seja, fazer a investigação só para desmentir as provas e não encontrar evidências dos crimes.
Apostando na conduta dos “amigos”, Reinaldo recorreu ao STF para que os crimes apontados pela JBS sejam apurados pelos procuradores de Justiça sul-mato-grossenses. O advogado do tucano, Gustavo Passarelli, apontou , no pedido feito a Fachin, que o caso é de competência estadual, por envolver corrupção no fisco.
“Ora, em se tratando, acaso se admitissem verdadeiras alegações dos colaboradores de pagamento de valores para obtenção de benefícios relacionados ao ICMS, trata-se de tributo estadual e, por isso, competente ao Ministério Público Estadual, e não ao Federal, a competência para apuração dos fatos em relação às pessoas físicas mencionadas”, disse o advogado, em trecho publicado pelo Midiamax.
Desesperado e acuado pelas denúncias, que podem condená-lo a ser o primeiro governador de apenas um mandato desde a adoção da reeleição para cargos executivos, Reinaldo tem pressa e joga com as armas que possui.
A estratégia é a mesma adotada há centenas de anos na política brasileira: o político se livra de investigação isente, depois investe em publicidade ostensiva e monta um mega esquema de alianças. Ao eleitor, em uma sinuca de bico, sempre coube acatar a candidatura posta.
No entanto, não custa nada ter esperança de que o eleitor, o bastião da democracia brasileira, mudou e não será convivente com a corrupção, independente de partido político.
O que vem acabando com o Brasil é ser conivente com gente como o ministro Gilmar Mendes, que usa e abusa do poder vitalício do cargo no Supremo, debocha da sociedade, mesmo diante das evidências.
A esperança persiste porque há apenas um Gilmar contra 10 ministros no Supremo.
E enquanto há 31 procuradores de Justiça, há quase 2 milhões de eleitores para fazerem a diferença em MS, que terão a oportunidade de condenar ou absolver o governador, mas depois de investigação séria e isenta. Oxalá que as coisas ocorram assim!