A Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul nunca deu trabalho para o chefe do Poder Executivo, nem nos piores momentos da vida política estadual. No entanto, com a população contagiada pelos ares da “primavera árabe”, os deputados podem, pela primeira vez, dar trabalho ao governador Reinaldo Azambuja (PSDB), acossado por denúncias de corrupção e gestão ineficiente.
Apesar da propaganda oficial, a situação do Estado de Mato Grosso do Sul é complicadíssima. No cargo há dois anos e meio, Reinaldo não concedeu nenhum reajuste salarial aos 72 mil funcionários públicos estaduais. Neste ano, a tendência é reajuste zero e apenas manter o abono do ano passado, ou seja, até o benefício extra foi corroído pela inflação dos últimos 12 meses.
O Governo registra déficit milionário. Além disso, desde outubro do ano passado, a administração estadual não paga o MS-Prev, nem o valor descontado dos salários dos 8 mil servidores incluídos no novo sistema. Se não pagar R$ 40 milhões da previdência até o dia 25, o Estado perde a certidão negativa e corre risco de ter suspenso os repasses federais.
O mega pacote de obras de R$ 1,7 bilhão, que vem sendo cogitado desde o ano passado, ainda não saiu do papel. A principal obra, o polêmico Aquário do Pantanal, segue inconcluso e como fonte de desperdício milionário de dinheiro público. Após consumir R$ 234 milhões, a obra já caminha para exigir somas absurdas para ser concluída em decorrência do desgaste e do apodrecimento das peças.
Neste cenário, os deputados da oposição, que eram cinco, conseguiram ganhar apoio dos governistas para colocar o governador contra a parede e exigir a retomada da negociação com os servidores. Eles não aceitam reajuste zero pelo terceiro ano consecutivo.
A Assembleia agora vai converter a comissão especial, criada para investigar o pagamento de R$ 38,5 milhões em propinas ao governador, em CPI. A mudança dá mais poderes aos parlamentares na condução da investigação, tanto para solicitar documentos como para convocar testemunhas e investigados.
O maior vexame será o governador prestar depoimento em público para se explicar sobre a denúncia de que recebeu, na Governadoria, R$ 10 milhões em espécie e R$ 28,4 milhões por meio de notas falsas, conforme depoimentos dos executivos da JBS.
Isso sem falar que as denúncias de cobrança de propina por integrantes da cúpula do Governo ainda não começaram a ser nem investigados. E a investigação contra o governador vai começar sem saber quem mais foi gravado pelo grupo de empresários do setor de frigoríficos e curtumes. Após a denúncia no Fantástico, principal programa de domingo da TV Globo, eles possuem seis horas de gravações sobre a corrupção na atual administração.
Com as redes sociais e o whatsapp, a cortina de fumaça dos jornais bancados pela publicidade oficial não será suficiente para abafar os efeitos da administração tucana, marcada por números desastrosos e envolvida em denúncias cabeludas.
Além de tudo isso, os ares de revolta chegaram ao Brasil e não ficaram restritos ao mundo árabe.
Espera-se que parte do eleitorado será mais exigente em 2018 e vai cobrar a fatura dos deputados estaduais. Eles não vão poder repetir o mantra de décadas e acobertas escândalos, como a Operação Uragano, em 2010, quando o então primeiro secretário da Assembleia, Ary Rigo, revelou que havia pagamento de mensalão.
Sete anos depois, sem culpados na Justiça, chegou a hora do povo cobrar o fim da corrupção.
E não vão ser lágrimas que convencerão o pobre eleitor – cansado de ser sacrificado pela roubalheira – de o melhor será deixar tudo como está.