A transparência nos gastos públicos expõe histórias absurdas de quem gosta de “mamar” nas tetas do poder público. Esse é o caso do pastor, médico e vereador Antônio Ferreira da Cruz Filho, o popular Dr. Antônio Cruz, 67 anos, do PSDB. Não bastasse receber R$ 31,8 mil da Câmara Municipal, ele ainda recebe R$ 4 mil da Prefeitura de Campo Grande para ser dono do próprio hospital.
Em seu sítio eletrônico no legislativo municipal, ele se define como “escravo da população” de Campo Grande. Só que ao contrário dos escravos, o médico é muito bem remunerado para exercer as atividades, privadas ou públicas.
No quinto mandado de vereador de Campo Grande, Dr. Antônio Cruz recebe subsídio mensal de R$ 15.031,76 por mês como vereador. Além disso, ele tem direito a verba indenizatória de R$ 16,8 mil mensal.
Ou seja, só para atuar como vereador, ele já recebe um bom salário e poderia abrir mão do vencimento como médico na rede municipal de saúde, que sofre com a falta de médicos, de dinheiro, de remédios e de vagas nos hospitais.
No entanto, o vereador fez muito pior, se é possível usar esta expressão. Como administra o Hospital Evangélico de Campo Grande, ele não tem tempo para atender em uma unidade básica de saúde. Então, gentilmente, solicitou ao prefeito Marquinhos Trad (PSD), a sua cedência para o seu hospital.
Apesar da política rigorosa de reduzir gratificações e não permitir a cedência de servidores para outros órgãos públicos, o prefeito aceitou o pedido do vereador tucano e publicou, na edição do Diário Oficial de Campo Grande, a cedência do médico Antônio Cruz para o Hospital Evangélico, com a manutenção do pagamento do salário integral, que foi de R$ 4.072,05 no mês passado.
Cruz fundou o Hospital Evangélico em 1994, seis anos após ser eleito vereador pela primeira vez. Desde então, sempre usando a estrutura do hospital, ele fez a carreira política, onde já se elegeu deputado federal por três ocasiões e vereador por cinco.
A sociedade fica indignada porque o município paga salário integral para o pastor trabalhar como “dono” do seu próprio hospital. Ou seja, enquanto nega gratificações e reduz salários de quem dá o sangue pela máquina municipal, o prefeito não corta o salário de quem não tem tempo de se dedicar à rede pública.
E pior ainda é o vereador, que deveria dar exemplo nos tempos de austeridade e vacas magras, mas segue nadando nas regalias possíveis graças ao mandato popular lhe outorgado por 3.380 eleitores no ano passado.