https://www.youtube.com/watch?v=ZiQtai68JrQ&feature=youtu.be
As novas gravações, divulgadas pelo jornal Midiamax e pela TV Morena, reforçam as denúncias sobre a cobrança de propina na gestão tucana. E pior, a “onipresença” de Sérgio de Paula, apesar estar afastado desde março, fragilizam ainda mais a fraca defesa do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que partiu para o ataque contra os denunciantes.
A tática da defesa da gestão tucana é desqualificar os adversários. Reinaldo repete o discurso de campanha, quando acusava os petistas enrolados em suspeitas na Lava Jato, de bandidos, criminosos e integrantes de facção. Só que agora ele inverte a lógica, os denunciantes são os bandidos, não os acusados.
A primeira denúncia que a “república da propina” se instalou na Governadoria surgiu com a delação da JBS, em que os empresários acusaram o governador de ter recebido R$ 38,4 milhões em propina.
Depois de negar em nota oficial e chorar duas vezes diante dos jornalistas, Azambuja decidiu contra atacar e repetiu o discurso do presidente Michel Temer (PMDB), de que os donos da JBS, maior produtora mundial de carne, são bandidos e mentirosos.
O tucano chegou a ser defendido publicamente pelos conselheiros do Tribunal de Contas e pelos procuradores de Justiça. No entanto, muita gente queimou as mãos com a publicação da denúncia pelo Fantástico, no domingo, em que três empresários reforçam a denúncia de cobrança de propina para liberar incentivos fiscais.
José Alberto Berger, do curtume Braz Peli, contou que procurou o governador para pedir a reativação do regime especial. O tucano pediu para procurar o então poderoso chefe da Casa Civil, Sérgio de Paula, que o encaminhou ao corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro.
Após pagar R$ 500 mil de propina, ele conseguiu reaver o direito de isenção do ICMS. O grupo voltou a conversar e exigiu R$ 150 mi por mês. Berger se revoltou e decidiu gravar a entrega de R$ 30 mil para Sérgio de Paula.
Governador e ex-secretário desmentiram qualquer vínculo com Polaco. Eles foram desmentidos pelo registro do boletim de ocorrência feito por Polaco e Zelito Alves Ribeiro, outro funcionário da Casa Civil, em que admitiam a conversa com os Berger e a intervenção em órgãos do Governo para liberar a licença do curtume.
O boletim foi o famoso tiro pela culatra. Tinha o objetivo de dar salvaguarda aos envolvidos, mas comprovou o envolvimento de integrantes da Governadoria com o suposto esquema de propina.
Ontem, o secretário de Governo, Eduardo Riedel, apresentou documentos de sonegação de Berger. Citou documentos enviados em abril de que o curtume tinha ligação com empresas fantasmas. A data revela que o governador começou a planejar o contra ataque em março, quando surgiram os boatos de que gravações comprometiam a administração tucana.
Naquela época ninguém viu nenhum vídeo, mas o boato causou a queda de Sérgio de Paula, uma espécie de “José Dirceu” de Reinaldo, porque detinha o poder e sabia os caminhos maquiavélicos que levaram o tucano ao poder.
Agora, ficamos sabendo que o Governo sabia das supostas irregularidades praticadas pelo empresário, mas não tinha denunciado até a divulgação do vídeo pelo Fantástico, no domingo. Só neste semana, Reinaldo decidiu procurar a polícia e recorrer até ao Supremo Tribunal Federal contra o “bandido”.
Com a divulgação das gravações nesta terça-feira, Berger deu o contra golpe. Ele comprovou que teve o aval de Sérgio de Paula para pagar propina a Polaco. E ainda mostrou gravações de Zelito, o mesmo enrolado na delação da JBS por apresentar notas falsas para justificar o pagamento de propina ao governador.
As novas gravações mostram que houve conluio de muita gente no governo com o pagamento de propinas. O caso merece ser investigado.
O procurador geral em exercício, Humberto Brites, que viu honestidade no governador por ser muito rico, já anunciou a abertura de procedimento. Na semana passada, ele recorreu a crendice popular, de que um governante rico, com a fortuna estimada em R$ 38,5 milhões, nunca iria ter na prática da corrupção a opção mais fácil de ampliar o patrimônio.
Brites anunciou a investigação após ver a denúncia no Fantástico, de que já são quatro empresários acusando o governador e sua trupe de cobrar vantagens indevidas.
A população assiste chocada o desenrolar dos fatos e a iniciativa dos órgãos fiscalizadores. Com cinco pedidos de impeachment na mesa, o presidente da Assembleia, Junior Mochi (PMDB), que sonhava em ser vice na chapa de Reinaldo em 2018, instalou hoje a Comissão Especial para investigar o governador.
Dos cinco integrantes, só o presidente, Paulo Corrêa (PR), não apareceu na famosa lista dos 1.890 políticos da JBS. Os deputados não se deram nem ao trabalho de disfarçar a isenção no caso.
Nos últimos dias, com as novas denúncias, a tarefa é desvendar outro mistério: o que fazia Sérgio de Paula na reunião do governador com os deputados estaduais para se explicar das denúncias feitas pela JBS. O encontro ocorreu a portas fechadas e só começou após todos os deputados entregarem os celulares.
O que fazia De Paula em um encontro que não foi permitido nenhum aparelho eletrônico de gravação?
É, pelo andar da carruagem, a Polícia Federal, sob a tutela do Superior Tribunal de Justiça, vai ter muita coisa suspeita para desvendar nas terras guaicurus.