O caso do “cabide de empregos” de parentes na Secretaria Estadual parece ser mais surreal que enredo de filme. Enquanto nega o reajuste de 7,64% no piso dos professores, apesar de estar previsto em lei e ser compromisso da campanha eleitoral em 2014, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) permite o pagamento de R$ 13,8 mil em salários a uma docente que cumpre expediente como secretária do “marido”.
A história começou com a denúncia, feita pelo O Jacaré, de que há nepotismo na Secretaria de Educação, sob o comando de Maria Cecília Amendola da Mota. Ela já empregou o genro, Marcelo Salomão, que foi remanejado para a chefia do Procon em março deste ano.
Duas professoras, que trabalham com os maridos na pasta, são cedidas pelo município. Alessandra Ferreira Beker Daher é coordenadora, enquanto o esposo, Hélio Queiroz Daher, é superintendente. Ela só recebe da prefeitura.
A história mais interessante é da professora Cristiane Borges da Cunha Maggioni, que também é cedida pelo município com ônus para a prefeitura. Ela é “esposa” do superintendente de Gestão de Pessoas da secretaria, Wellington Fernando Modesto da Silva, primo da vice-governadora Rose Modesto (PSDB).
Cristiane trocou as salas de aula para cumprir expediente como secretária de Wellington. Como é cedida com ônus para a origem, segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Educação, devido a um termo de cooperação mútua firmado entre o Governo e o município, ela tem dois salários pagos pela prefeitura. Teoricamente, só deveria ser remunerada pela município.
No entanto, Cristiane é sortuda. Além de trabalhar com o “esposo” , ela recebe salários do município e do Governo estadual, que somaram R$ 13.844,84 no mês passado. Em abril, a Secretaria de Educação lhe pagou R$ 4.042,04 para ser a secretária do superintendente.
Já a prefeitura pagou R$ 4,8 mil pelo vínculo de 20 horas e outros R$ 4,9 mil por outro. A história é parecida com a do secretário municipal de Saúde, Marcelo Luiz Brandão Vilela, que recebia R$ 22,6 mil do Hospital Regional sem trabalhar. Agora, a situação inverte. Marquinhos paga R$ 9,8 mil para a professora cumprir expediente no Parque dos Poderes.
O Ministério Público Estadual informou que já investiga o “casal”. Apesar de morarem juntos há sete anos, Wellington e Cristiane não oficializaram a união em cartório e alegam que não são casados.
O promotor do caso chegou a acreditar na história e arquivou o inquérito. No entanto, o Conselho Superior do MP rejeitou o arquivamento e mandou reabrir a investigação. Neste momento, o caso aguarda a designação de um outro promotor para ser retomado.
O Governo estadual foi procurado para falar sobre o caso no dia 10 de maio deste ano. Hoje, 20 dias depois, não houve manifestação.
O estilo tucano mostra que o professor tem mais valor fora da sala de aula. Enquanto permite pagamento de super salários a mulher do primo da vice-governadora, Azambuja se nega a cumprir o acordo com a educação, que previa reajuste de 7,64% no piso da categoria.
Os professores paralisaram as atividades nesta terça-feira em protesto ao não cumprimento da Lei Complementar 200/2015, que previa o pagamento do piso nacional para jornada de 20 horas.
Antes de ser eleito governador, Reinaldo Azambuja assumiu o compromisso de cumprir a lei estadual, aprovado na gestão do antecessor, André Puccinelli, que previa o pagamento do piso nacional para 20h até o fim de 2018.
Eleito, ele ingressou com ação na Justiça contra a lei e acabou enfrentando a fúria dos professores. Em seguida, fez acordo para postergar o reajuste e aprovou a nova lei, que também não é cumprida.
Além dos docentes, ele também não cumpriu o acordo de incorporar ao salário o abono de R$ 200 pagos aos servidores administrativos da educação. Aliás, todos os servidores estaduais seguem sem reajuste desde que o tucano assumiu o Governo.
Enquanto se discute as regalias do reino e quem usou nota fiscal fria, os servidores são obrigados a se conformar com o abono, de R$ 100 a R$ 200, que foi estendido até 2018.
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