Após detonar a classe política com a delação bombástica no âmbito da Operação Lava Jato, o empresário Joesley Batista, dono da JBS, concordou em prestar depoimento na Lama Asfáltica. O bilionário deve reforçar as acusações contra o ex-governador André Puccinelli (PMDB), na Operação Máquinas de Lama, em que é acusado de integrar organização criminosa que causou prejuízo de R$ 150 milhões aos cofres públicos.
Os advogados da multinacional, a maior produtora mundial de carne, informaram à Justiça Federal que Joesley e Valdir Boni, outro delator da Lava Jato, concordaram em ser ouvidos sobre a investigação em Mato Grosso do Sul.
No entanto, não foi divulgado Joesley será ouvido em Nova Iorque, nos Estados Unidos, onde passou a residir após sofrer ameaças de morte no Brasil, ou virá a Mato Grosso do Sul para ser interrogado.
Junto com o irmão, Wesley, e Ricardo Saud, outro executivo da empresa, ele denunciou, em delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal, de que o ex-governador recebeu R$ 112 milhões em propinas para conceder incentivos fiscais às indústrias do grupo, como frigoríficos e a fábrica de celulose Eldorado.
A propina foi paga por meio de notas fiscais falsas (R$ 22,3 milhões), doleiros (R$ 60 milhões) e em espécie (R$ 30 milhões). Os dois citados como operadores do esquema do peemedebista foram alvos da Operação Máquinas de Lama.
Ivanildo da Cunha Miranda, empresário e pecuarista, foi conduzido coercitivamente para prestar depoimento. O ex-secretário adjunto de Fazenda, André Cance, foi preso, mas liberado por habeas corpus concedido pelo desembargador Paulo Fontes.
Na mesma operação, policiais federais recolheram documentos e computadores nos frigoríficos da JBS na Capital e no escritório em São Paulo e na Eldorado, em Três Lagoas. A empresa recorreu à colaboração na Lava Jato para recuperar os documentos, mas o juiz substituto da 3ª Vara Federal, Fábio Luparelli Magajewski, negou o pedido e seguiu recomendação do Ministério Público Federal de que os produtos apreendidos são importantes para investigação.
A análise dos documentos e os depoimentos podem levar a nova fase da Lama Asfáltica. O ex-governador, que chegou a ser monitorado por tornozeleira eletrônica por oito dias, é um dos principais alvos da investigação.
Puccinelli rebate de forma veemente a acusação de cobrança de propina e desvio de recursos públicos.
Joesley deve reforçar a denúncia contra o peemedebista, já que poderá dar mais detalhes do suposto esquema de pagamento de propina. Ao Supremo, ele disse que André não só manteve a cobrança da propina iniciada na gestão de Zeca do PT, como elevou o percentual de 20% para 30%.
Se o depoimento for em Campo Grande, os deputado estaduais poderiam aproveitar a oportunidade para ouvir o empresário. Eles integram a Comissão Especial para investigar o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), acusado de receber R$ 38,5 milhões em propinas, e os últimos dois ex-governadores.
Além da Assembleia e da PF, o caso será analisado pelo Superior Tribunal de Justiça.