André Puccinelli (PMDB) se mostrou implacável nas negociações com a JBS e conseguiu elevar o valor da propina de 20% para 30% dos valores pagos pela companhia. Dos R$ 150 milhões pagos pela empresa aos ex-governadores de Mato Grosso do Sul, o peemedebista teria recebido R$ 112 milhões por meio dos operadores Ivanildo da Cunha Miranda e André Luiz Cance. As informações constam da delação explosiva homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
Conforme as delações feitas pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, e pelo executivo Ricardo Saud, a cobrança de propina em troca de incentivos começou na gestão de Zeca do PT, atual deputado federal. Eles se lembram que o percentual era de 20%, mas não apresentaram provas contra o petista, porque, supostamente, os documentos já tinham sido descartados. O petista nega a denúncia.
No entanto, em relação ao peemedebista, que já é investigado na Operação Lama Asfáltica, os executivos apresentaram ampla documentação. O primeiro detalhe é que o ex-governador elevou o percentual da propina de 20% para 30%.
Com fama de implacável nas negociações, o peemedebista conseguiu dobrar os “açougueiros de Goiás”, quando a empresa começava a dar os passos de internacionalização, e elevou o percentual da propina de 20% para 30%.
A JBS não é a primeira empresa a destacar o poder de negociação do peemedebista. Ele também já foi citado na delação da Odebrecht, também no âmbito da Lava Jato. O ex-governador só pagou a dívida do Estado com a empreiteira após reduzir o valor de R$ 79 milhões para R$ 23,4 milhões e, mediante, o pagamento de “dízimo” para sua campanha, no valor de R$ 2,3 milhões, conforme delações dos executivos e ex-executivos, também homologadas pelo STF.
Ao contrário dos adversários, o atual governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e o ex-senador Delcídio do Amaral, que conduziam pessoalmente as suposta negociações de caixa dois e pagamento de propina, o peemedebista delegava para um operador.
Puccinelli nomeou o empresário e pecuarista Ivanildo Miranda, dono de uma distribuidora de bebidas na Capital, para operacionalizar o suposto esquema, segundo depoimento de Wesley Batista.
Ivanildo foi o sucessor do empresário João Amorim como operador financeiro das campanhas eleitorais do então governador. Na época, uma separação litigiosa fez barulho e expôs Amorim, dono da Proteco, o que o fez submergir e voltar a atuar nos bastidores dos bastidores, digamos assim.
A JBS entregou notas fiscais falsas que foram usadas no pagamento da propina ao ex-governador. Eles anteciparam a estratégia de Azambuja, mas somente alguns simularam venda de gado ao frigorífico para justificar o pagamento, como foi o caso de Ivanildo, no valor de R$ 5 milhões, e da Proteco, R$ 9,5 milhões.
Aqui, um adendo para citar a investigação da Polícia Federal na Máquinas de Lama, em que houve indícios da locação de máquinas pela Proteco para esquentar a propina. Só que os policiais informaram que o valor da propina paga pela multinacional era de 20%.
Na delação, conforme a JBS, a Gráfica Alvorada emitiu notas falsas entre 2012 e 2014 para justificar o pagamento de R$ 2,5 milhões. O dono da empresa, Mirched Jafar Júnior, foi preso na Máquinas de Lama, onde foi acusado, junto com André, de integrar organização criminosa que desvio R$ 150 milhões dos cofres públicos.
Em 2014, último ano de seu Governo, Puccinelli brigou com Ivanildo e o substituiu como operador do esquema pelo então secretário estadual adjunto de Fazenda, André Cance. Preso na operação deste mês da PF, Cance teria até planilhas com nomes de pessoas beneficiadas pelo suposto esquema criminoso montado pelo ex-governador. O caso é investigado pela PF.
As empresas citadas pela JBS na emissão de notas falsas foram: Proteco (R$ 9,5 milhões), MB Produções Cinematográficas (R$ 1,1 milhão), Bartz Propaganda (R$ 300 mil), Ibope (R$ 2,8 milhões), Instituto Ícone de Ensino Jurídico (R$ 1,2 milhão), Gráfica Jafar (R$ 980 mil) e Gráfica Alvorada (R$ 2,9 milhões).
Também teriam sido pagos R$ 60 milhões por meio de doleiros a terceiros indicados por Ivanildo e R$ 30 milhões em espécie.
Segundo Wesley, o ex-governador teria concedido incentivos para ampliação da unidade de abate e desossa em Naviraí em 2011; ampliação de unidade em 2014, e implantação de frigorífico em 2007. Só o acordo firmado em 2013, no qual a empresa recebeu benefício, mas não o cumpriu integralmente.
A verdade vai prevalecer, diz André
O ex-governador é taxativo em negar as denúncias. Em entrevista domingo ao Campo Grande News, ele classificou a delação da JBS como “mentirosa”. Ele garantiu que tem ampla documentação para provar a verdade e de que não houve cobrança de propina.
“Se você for ver nas delações, eles dizem que recebi dinheiro com nota fiscal em 10 de janeiro de 2016, dois anos depois de eu já estar fora do governo”, afirmou.
Neste ponto, o ex-governador tem razão. Delatores da JBS anexaram seis notas falsas, no valor de R$ 5 milhões, que teriam sido emitidas pelo empresário Ivanildo Miranda.
Puccinelli é citado em duas delações no âmbito da Operação Lava Jato, a da JBS e da Odebrecht.
Ele está com os bens bloqueados pela Justiça Federal após a Operação Lama Asfáltica, na segunda fase denominada Fazendas de Lama, apontar suposto desvio de R$ 43 milhões. Na terceira, no desvio de R$ 150 milhões, ele chegou a ficar monitorado por tornozeleira eletrônica por alguns dias.