Durante a campanha eleitoral de 2014, Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, mandaram os funcionários anotarem todas as doações feitas aos candidatos, desde o mísero R$ 375 até R$ 10,5 milhões. Eles contemplaram 54 candidatos, que depois de torrar a grana na campanha, reagem à citação na delação premiada e acusam os irmãos de bandidos, “terroristas” contra os interesses nacionais e oportunistas.
Ex-comandante da Polícia Militar, coronel Carlos Alberto David dos Santos (PSC), recebeu R$ 52 mil para a campanha de deputado estadual. Ele ficou de suplente e conseguiu a vaga com a ajuda do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que ganhou R$ 10,5 milhões em 2014, que nomeou o titular da vaga, José Carlos Barbosa, o Barbosinha (PSB), como secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, outro agraciado com R$ 109,5 mil.
Agora, Coronel David vê os irmãos Batista como “bandidos” e “mentirosos”. Na terça-feira, durante entrega de viatura do Corpo Bombeiros, para defender o governador, ele usou o faro para detectar os bandidos da história.
A delação da JBS, que admitiu ter corrompido 1.890 políticos, foi homologada pelo Supremo Tribunal Federal e vem implodindo a política tradicional brasileira.
Outros ficaram magoados por não terem o devido valor reconhecido pelos “açougueiros de Goiás”. Este foi o caso do poderoso empresário Antônio João Hugo Rodrigues, dono do Correio do Estado, e que recebeu “apenas” R$ 20.302 para a campanha ao Senado. Ele citou o colega de partido, Ademar Vieira Júnior, o Coringa, que ganhou R$ 22.132 para disputar a vaga na Câmara dos Deputados.
Dos quatro principais candidatos a senador, AJ foi o que menos recebeu ajuda. “Estava valendo muito pouco”, postou no Facebook, para desdenhar da lista da multinacional, a maior produtora de carnes do mundo, e destacar que continua dormindo o “sono dos justos”.
O ex-prefeito Alcides Bernal (PP) nem teve tempo de comemorar a desgraça dos adversários. Foi citado na bombástica lista por ter abocanhado R$ 400 mil. Mais que o candidato do PT, Ricardo Ayache (hoje no PSB) recebeu oficialmente, R$ 198.044. O progressista divulgou nota em que destaca que a doação foi legal, feita pela direção nacional e só descobriu que era da JBS na hora de prestar contas ao TRE/MS.
A senadora eleita na disputa, Simone Tebet (PMDB), teve mais sorte e foi agraciada com R$ 1,720 milhão.
Aliás o PMDB foi o partido mais queridinho da JBS. A empresa destinou R$ 2,043 milhões a 12 candidatos a deputado estadual e seis federal da sigla em 2014.
Na Câmara dos Deputados, Carlos Marun é o maior crítico da empresa. Com a divulgação, a dúvida que persiste é saber se ele está indignado por ter recebido menos, R$ 103 mil, ou se é sincero em relação ao temor da queda praticamente certa do presidente Michel Temer (PMDB).
Marun recebeu um sexto do valor pago ao ex-deputado federal e radialista Marçal Filho, R$ 653 mil, que não conseguiu ser eleito, apesar do montante enviado pela JBS. Mais sorte a empresa teve em apostar em Geraldo Resende, R$ 450 mil, que depois de sair do PPS e passar pelo PMDB, já está, por hora, no PSDB.
Ardoroso defensor da investigação do governador pela denúncia, de que cobrou R$ 38,4 milhões em propinas, o ex-presidente da OAB/MS e ex-deputado federal Fábio Trad, recebeu R$ 103 mil. O mesmo valor foi pago a ex-vereadora e atual subsecretária da Mulher na gestão de Marquinhos Trad, Carla Stephanini.
Bruno Reichard recebeu R$ 13 mil e foi o único a ter menos do que o revoltado deputado Carlos Marun.
O presidente da Assembleia Legislativa, Junior Mochi, recebeu R$ 57 mil da abominável empresa. O maior valor foi pago mesmo a Renato Câmara, R$ 224 mil, que divulgou nota para justificar o valor. Ele explicou que recebia via candidatos da majoritária e declarou os valores ao TSE.
Do PSDB surpreende as doações feitas a alguns, como um dos representantes da nova política, o policial federal André Salineiro, que ganhou R$ 11.750 como candidato a deputado estadual. Na mesma lista está a secretária estadual de Educação, Maria Cecília Amendola da Mota, que teve ajuda de R$ 8.101.
Vergonha deve ser integrar a suposta lista pelo pagamento da miserável quantia de R$ 375. Este é o caso do ex-prefeito de Sidrolândia e atual presidente da Agraer, Enelvo Felini. O tucano não cumpriu a risca a recomendação feita no ditado popular de que não se deve se sujar por pouca m, já que em 2012 declarou ter patrimônio de R$ 4,3 milhões.
Do PT só apareceu o deputado Pedro Kemp, para surpresa dos eleitores fieis e admiradores. O petista confirmou os R$ 30 mil, que teriam sido repassados pela candidatura de Ayache e declarados à Justiça Eleitoral. Mas não escapou do espanto: até tu, Kemp?
Citados em todas as outras delações, Zeca do PT e o sobrinho Vander Loubet, foram a surpresa porque estão fora da bombástica lista.
Confira abaixo quem recebeu da JBS em 2014:
DEM
1 – Luiz Henrique Mandetta – R$ 25.086 (deputado federal)
2 – Ailton Stropa Garcia R$ 5.266 (não foi eleito e chegou a ser presidente da Agepen)
3 – José Roberto Teixeira R$ 15.761 (deputado estadual e primeiro-secretário da Assembleia)
PEN
4 – Lídio Nogueira Lopes – R$ 52 mil (deputado estadual)
5 – José Ivan de Almeida – R$ 2 mil (ex-deputado e ex-comandante da PM)
PMDB
6 – Renato Câmara – R$ 224 mil (deputado estadual)
7 – Antonieta Amorim – R$ 102 mil (deputada estadual)
8 – Loester Nunes (vereador)
9 – Maicon CLeython Rodrigues Nogueira – R$ 2 mil (subsecretário da Juventude na Capital)
10 – Daltro Fiúza – R$ 57 mil (ex-prefeito de Sidrolândia)
11 – Junior Mochi – R$ 57 mil (presidente da Assembleia)
12 – Paulo Siufi – R$ 52 mil (deputado estadual)
13 – Marcos Trad (prefeito da Capital)
14 – Maurício Picarelli (deputado estadual e apresentador de TV)
15 – Waldemir Poppi –R$ 12 mil (ex-vereador e líder comunitário)
16 – Délia Godoy Razuk – R$ 50 mil (prefeita de Dourados)
17 – Maria Campos – R$ 2 mil (policial civil)
18 – Geraldo Resende – R$ 450 mil (deputado federal e no PSDB)
19 – Marçal Filho – R$ 653 mil (ex-deputado e radialista em Dourados)
20 – Fábio Trad – R$ 103 mil (ex-deputado federal e ex-presidente da OAB/MS)
21 – Carla Stephanini – R$ 103 mil (subsecretaria municipal da Mulher)
22 – Carlos Marun – R$ 103 mil (deputado federal)
23 – Bruno Reichardt – R$ 13 mil (ex-vereador em Ponta Porã)
24 – Eduardo Rocha – R$ 52 mil (deputado estadual)
25 – Nelsinho Trad – R$ 3,260 milhões (ex-prefeito da Capital)
26 – Simone Tebet – R$ 1,720 milhão (senadora)
PP
27 – Alcides Bernal – R$ 400 mil (ex-prefeito da Capital)
28 – Ritva Cecília Queiroz Garcia – R$ 5.944 (ex-presidente da Agereg)
29 – Evander Vendramini – R$ 85.090 (vereador em Corumbá)
30 – Derly dos Reis Oliveira, o Cazuza – R$ 5.584 (vereador em Campo Grande)
PPS
31 – Athayde Ney – R$ 17.589 (secretário estadual de Cultura)
32 – Aldo Donizete – R$ 14.618 (ex-presidente da Funsat)
PSD
33 – Bosco Martins – R$ 7.764 (presidente da TVE)
34 – Ademar Vieira Júnior, o Coringa – R$ 22.132 (subsecretário de Direitos Humanos na Capital)
35 – Antônio João Hugo Rodrigues – R$ 20.302 (sócio do Correio do Estado)
PSDB
36 –Maria Cecília Amendola da Motta – R$ 8.101 (secretária estadual de Educação)
37 – Flavio Kayatt – R$ 14.364 (deputado estadual)
38 – André Salineiro – R$ 11.750 (vereador em Campo Grande)
39 – Onevan de Matos – R$ 9.386 (deputado estadual)
40 – Ângelo Guerreiro – R$ 30.139 (prefeito de Três Lagoas)
41 – Rinaldo Modesto – R$ 21.553 (deputado estadual)
42 – Enelvo Felini – R$ 375 (presidente da Agraer)
PT
43 – Pedro Kemp – R$ 30 mil (deputado estadual)
44 – Ricardo Ayache – R$ 198.044 (presidente da Cassems e atualmente no PSB)
PTdoB
45 – Márcio Fernandes – R$ 52 mil (deputado estadual e no PMDB)
46 – Mara Caseiro – R$ 52 mil (deputada estadual e no PSDB)
47 – Carlos Alberto David dos Santos – R$ 52 mil (deputado estadual e no PSC)
48 – Álvaro Soares dos Santos – R$ 52 mil (de Ponta Porã)
PSB
49 – Tereza Cristina Corrêa da Costa Dias – R$ 103 mil (deputada federal)
50 – José Carlos Barbosa – R$ 109,5 mil (secretário estadual de Justiça e Segurança Pública)
PTN
51 – Paulo Dolzan – R$ 17 mil
SD
52 – Herculano Borges Daniel – R$ 6.132 (deputado estadual)
53 – Elizeu Dionízio – R$ 22.864 (deputado federal)
PDT
54 – Dagoberto Nogueira Filho – R$ 170 mil (deputado federal)