Acuado pela denúncia de que recebeu R$ 38 milhões em propinas do grupo JBS, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) falou pelo terceiro dia e até chorou duas vezes nesta segunda-feira. No entanto, ele não conseguiu aplacar os ataques e até o PT, que não vinha dando trabalho para a gestão tucana, decidiu agir e vai propor a criação de Comissão Processante contra o tucano.
É só mais uma dor de cabeça para Azambuja, que já teve dois pedidos de impeachment protocolados ontem na Assembleia Legislativa. O primeiro foi surpresa, porque partiu do vereador Vinícius Siqueira (DEM), que faz parte de um partido aliado tradicional do PSDB. Inclusive, até o momento, o único deputado estadual citado na delação do JBS, Zé Teixeira, é do DEM. Ele teria emitido R$ 1,6 milhão em notas falsas para justificar a propina.
O segundo pedido foi protocolado pelos advogados Danny Fabrício Cabral Gomes e Soraya Vieira Thronicke. A base dos dois pedidos é a delação do JBS, que acusa o tucano de conceder incentivos em troca de propina.
De acordo com o depoimento de Wesley Batista, além do repasse feito durante a campanha eleitoral em 2014, foram pagos R$ 38,4 milhões, sendo R$ 10 milhões em espécie, R$ 12,9 milhões por meio de notas falsas emitidas pelo Frigorífico Buriti e mais R$ 15,4 milhões por meio de produtores rurais.
A propina era paga para a obtenção de isenções fiscais do ICMS para a instalação de indústrias. O JBS obteve R$ 996 milhões em benefícios do tucano.
O escândalo caiu como uma bomba na Governadoria, de onde Azambuja acompanhava os adversários sendo engolidos pelas investigações da Polícia Federal. Principal adversário nas eleições de 2018, André Puccinelli (PMDB), tornou-se alvo da Operação Máquinas de Lama, que investiga desvio de R$ 150 milhões e até chegou a colocar tornozeleira no peemedebista.
O ex-governador já tinha sido citado por cobrar propina de R$ 2,3 milhões da Odebrecht em 2010, conforme delação na Operação Lava Jato. O ex-governador Zeca do PT chegou a ser citado por cobrar R$ 400 mil para a campanha de Delcídio do Amaral.
No entanto, a delação da JBS uniu os três e arrastou a atual administração para o inferno astral dos adversários. André é acusado de ter recebido R$ 112 milhões, o que inclui R$ 30 milhões em espécie e R$ 60 milhões por meio de dólares. Zeca teria recebido pessoalmente uma mala com R$ 3 milhões, dos quais só declarou R$ 1 milhão à Justiça eleitoral em 2010.
Com a administração sobrevivendo a crises, sem grandes obras e com problemas frequentes de caixa, o tucano sentiu o baque. No primeiro dia da delação, ele limitou-se a uma nota fria e confirmando a doação oficial, via PSDB nacional, de R$ 10,5 milhões em 2014.
A pressão aumentou e voltou a público no sábado para se explicar, novamente. O discurso foi mais enfático e taxou os irmãos Batista, que fizeram a delação e foram morar em Nova Iorque, de mentirosos. Negou de forma veemente que teria recebido propina.
O descanso no domingo não acalmou os ânimos. Antes do primeiro pedido de impeachment ser protocolado, o tucano já tinha convocado entrevista coletiva para voltar a se explicar sobre a acusação.
Antes de entrevista, a Assembleia recebeu o segundo pedido de impeachment. Independente do aval dos deputados estaduais, onde conta com o apoio da maioria, o tucano será investigado pelo Superior Tribunal de Justiça, junto com o adversário do PMDB, no qual são acusados de receber R$ 150 milhões em propinas.
No final da tarde de segunda-feira, com uma fortuna estimada em R$ 38 milhões e o segundo governador mais rico do Brasil, Reinaldo Azambuja chorou duas vezes.
Ao lado da esposa, Fátima Azambuja, e da vice-governadora Rose Modesto (PSDB),ele fez o discurso de que tudo foi construído com o trabalho e, frisou em mais de uma ocasião, que nunca precisou recorrer a roubalheira que assola o poder público brasileiro.
Ao chorar, o tucano se igualou a Puccinelli, que passou a ter as lágrimas como marca, tal foi a quantidade de eventos em que não conteve a emoção. E o choro do governador foi o principal tema das redes sociais na noite de ontem.
No entanto, as lágrimas não convenceram os petistas. Os quatro deputados do partido – Pedro Kemp, Cabo Almi, Amarildo Cruz e João Grandão – decidiram apresentar, nesta terça-feira o pedido para criar a Comissão Processante para investigar o governador. Esta pode ser a primeira investigação na história do Estado, criado há 40 anos, a investigar um governador.
E dependendo dos acontecimentos, o legislativo pode se sentir pressionado a criar a Processante. Reinaldo Azambuja pode enfrentar a mesma investigação sofrida por Alcides Bernal (PP) na Prefeitura de Campo Grande em 2015.
Chefiada pelo aliado e fiel escudeiro, Junior Mochi (PMDB), a Assembleia Legislativa pode arquivar os pedidos. No entanto, os deputados correm o risco de passar vexame, porque o STJ abrirá a investigação e se aceitar a denúncia, o órgão poderá afastar o governador do cargo em pleno ano eleitoral.
Outro fator preponderante é a sanha dos Trads, por enquanto, fora das operações de caça ao crime da moda. Ontem de manhã, Nelsinho Trad (PTB), até inaugurou obra no lugar do irmão, o prefeito Marquinhos Trad (PSD).
Já o ex-deputado federal Fábio Trad fez discurso no Facebook em que critica a OAB/MS por apoiar o impeachment de Michel Temer (PMDB) sem esperar o áudio da fita e ser mais “criteriosa” em relação as denúncias “gravíssimas” contra o tucano.
Os dois Trad, Marquinhos e Fábio, serão candidatos nas eleições de 2018. Bom, pelo menos, sonham.
Os tambores das eleições de 2018 já começam a ser tocados e vai ganhar espaço quem fizer mais barulho diante de uma sociedade indignada e sedenta por Justiça.