Após vários recursos e ações para protelar a realização da audiência de instrução, o advogado Renê Siufi, um dos maiores criminalistas de Mato Grosso do Sul, deu a última cartada e deve adiar o julgamento histórico do ex-prefeito de Campo Grande, Gilmar Antunes Olarte. Inicialmente, ele e dois assessores sentarão no banco dos réus nesta quarta-feira, 24 de maio.
Na sexta-feira, o advogado ingressou com o último pedido no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul para adiar o julgamento. Na petição, a defesa alega que os advogados Renê Siufi e Honório Suguita não poderão comparecer para a audiência prevista para as 8h. Eles alegam que foram intimados primeiro para participar de outra sessão, na 2ª Vara Criminal, onde acompanharão o depoimento de 20 testemunhas, a partir das 13h30.
Como não poderão participar de dois julgamentos no mesmo dia, eles pediram o adiamento do caso de Gilmar Olarte. No outro caso, eles foram intimados no dia 17 de fevereiro deste ano, enquanto a pauta de julgamento da Seção Criminal Especial só foi definida no dia 9 deste mês.
Não é o primeiro recurso para postergar o julgamento de Olarte por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no famoso escândalo do “golpe do cheque em branco” nos fieis da igreja Assembleia de Deus Nova Aliança. O caso foi tema de reportagem do Fantástico, da TV Globo.
No entanto, este recurso deve ter êxito, já que o desembargador Luiz Cláudio Bonassini, relator do processo, nem determinou a convocação de testemunhas para participar do julgamento. Um dos fatores que tem apressado o desfecho do caso é que o ex-assessor de Olarte, Ronan Edson Feitosa de Lima, preso no interior do Pará em setembro do ano passado, continua detido. Processo com réu preso tem prioridade na fila da Justiça.
O caso começou a ser investigado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) em dezembro de 2012 e revela como funciona a utilização da religião com fins políticos.
Olarte, Ronan e Luiz Márcio dos Santos Feliciano usaram a boa fé dos fieis, que deram cheques em branco para o pastor, de acordo com a denúncia. Eles também recorreram à má fé, porque alguns emprestaram o dinheiro na esperança de obter cargos na prefeitura e ganhar concessões de terrenos públicos.
Luiz Márcio era interditado judicialmente, mas conseguiu nomear a esposa para trabalhar na prefeitura e ainda lavou dinheiro para comprar uma caminhonete de luxo para o chefe.
O caso chegou ao Tribunal de Justiça porque Olarte assumiu a prefeitura em março de 2014 e passou a contar com foro privilegiado. No entanto, para seu azar, o caso caiu nas mãos do desembargador Bonassini, e o tiro saiu pela culatra.
A tentativa de escapar da Seção Cível também falhou. Logo após contratar o famoso criminalista Renê Siufi, Olarte renunciou ao cargo de prefeito, que mantinha sob júdice, e para tentar transferir o julgamento de todo o caso para a primeira estância.
Não teve sorte, porque a denúncia já tinha sido aceita pela Seção Criminal do TJ.
Nas alegações finais, os três mantiveram a mesma linha de defesa: de que o caso não pode mais tramitar no Tribunal de Justiça porque perdeu o foro privilegiado com a renúncia de Olarte.
O ex-prefeito pode ser condenado até a penas de 12 a 72 anos de reclusão pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.
Olarte tem insistido na tese de que é vítima de um complô e até chegou a apontar, vias jornais, de que Alcides Bernal (PP) pagou e deu empregos para as principais testemunhas do caso. No entanto, a Justiça não aceitou a tese da defesa.