André Puccinelli (PMDB) recorreu a um dos criminalistas mais caros do País para conseguir o habeas corpus e se livrar da maldita tornozeleira eletrônica. Apesar de estar com os bens bloqueados e não contar com R$ 1 milhão para pagar fiança, o ex-governador contratou Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, conhecido como o advogado das causas impossíveis.
A contratação surtiu efeito imediato. Mariz entrou com o pedido de habeas corpus do ex-governador às 14h33, conforme o site do TRF3 (Tribunal Regional Federal da 3ª Região). Em seguida, o desembargador Paulo Fontes concedeu a liminar acabando com o monitoramento eletrônico e permitindo o uso dos bens bloqueados para pagar a fiança.
Oito horas depois, às 21h30 (horário de MS), Puccinelli foi até o patronato e retirou a tornozeleira eletrônica. Não foi acompanhado do advogado de defesa, Renê Siufi, a versão sul-mato-grossense de Mariz, tanto no fato de fazer milagres nos processos quanto em cobrar os honorários mais caros do Estado.
Mariz livrou o ex-governador do risco de ter a prisão preventiva decretada na segunda-feira, quando terminava o prazo dado pelo juiz substituto da 3ª Vara Federal de Campo Grande, Fábio Luparelli Magajewski. Junto com outros 11 investigados na Operação Máquinas de Lama, a denominação da 4ª fase de Lama Asfáltica, Puccinelli é acusado de desviar R$ 150 milhões dos cofres públicos.
A juíza federal Monique Marchioli Leite, que estava cobrindo férias na 3ª Vara Federal, decretou a prisão preventiva de três e negou o pedido a respeito do peemedebista. No entanto, ela determinou o monitoramento eletrônico, que durou sete dias, de quinta-feira passada até ontem.
Oficialmente, Puccinelli não tinha dinheiro para pagar a fiança de R$ 1 milhão, cujo prazo venceu na segunda-feira e foi estendido por Fábio Magajewski. Para a juíza, ele deveria se desfazer dos bens em nome de laranjas para pagar a fiança. O gestor dos negócios do ex-governador é o ex-presidente do Hospital Regional, Rodrigo de Paula Aquino.
Sem alternativa e para não correr o risco de viver a saga do colega de partido no Rio de Janeiro, o ex-governador Sérgio Cabral, preso desde o ano passado na Lava Jato, Puccinelli não economizou na hora de contratar Mariz.
E a estratégia deu certo, em questão de horas, o famoso criminalista, que é amigo pessoal do presidente Michel Temer (PMDB) e foi cotado para ministro da Justiça, resolveu a parada.
Puccinelli é só mais um dos casos rumorosos a entrar para a lista de Antônio Mariz, com mais de 50 anos de carreira como criminalista. Já virou até lenda que ele cobrou R$ 2 milhões, há 25 anos, para livrar o empresário Paulo César Farias, o PC Farias, tesoureiro do então presidente Fernando Collor de Mello da prisão. Ele teve a prisão preventiva decretada e fugiu do país, apesar da promessa do advogado de livrá-lo da cadeia em 20 dias.
Mariz foi o único advogado a livrar um réu da condenação no Caso do Mensalão, onde o honorário oscilou entre R$ 500 mil a R$ 6 milhões, segundo levantamento da revista Veja em 2012. Na ocasião, a cliente do advogado foi Ayanna Tenório, única executiva do Banco Rural a ser absolvida pelo Supremo Tribunal Federal.
A famosa lista de clientes inclui o publicitário Duda Mendonça, responsável pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2002, a empresária Eiana Tranchesi, dona da Daslu, o ex-prefeito de São Paulo, Celso Pitta, o ex-diretor do jornal O Estado de Paulo, Antônio Marcos Pimenta Neves, e a estudante Suzane Von Richthofen, que matou os pais.
Agora, Mariz inclui no rol um dos investigados na mais rumorosa operação contra a corrupção em Mato Grosso do Sul.
Além do ex-governador, a Polícia Federal investiga o ex-secretário adjunto de Fazenda, André Cance, o pecuarista e ex-funcionário da Secretaria Estadual de Educação, Jodascil da Silva Lopes, Ana Cristina Pereira, Maria Aparecida Gonçalves Lopes, Rossana Paroschi Jafar (esposa do dono da gráfica), Mauro Cavalli (acusado de ser laranja do ex-governador), Maria Rogéria Fernandes Cavalli (mulher de Mauro), Rudel Sanches Silva (empresário), Jader Rieffe Julianelli Afonso (assessor especial da Secretaria Estadual de Governo e ex-secretário estadual de Fazenda), o professor universitário e advogado, André Puccinelli Júnior e o dono da Gráfica Alvorada, Micherd Jafar Júnior.