A empresária Mônica Moura afirma, em delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal, que o ex-senador Delcídio do Amaral, pagou R$ 400 mil “por fora” por um mês de campanha vitoriosa de Zeca do PT em 2002. Hoje deputado federal, o petista diz que nem ficou sabendo que o então senador tinha investido dinheiro no segundo turno.
No depoimento, ela confirma a delação do marido, o marqueteiro João Santana, de que a contratação foi feita na sauna da residência do ex-senador no Condomínio Bela Vista, em área nobre de Campo Grande. Os dois estavam nus para evitar qualquer gravação da conversa na época, quando Delcídio era secretário estadual de Infraestrutura.
O pagamento de R$ 4 milhões foi feito em outra reunião, também na casa do então petista, que iria disputar o primeiro cargo eletivo com o apoio do governador do Estado na época, Zeca do PT. Ela contou que veio com o marido para o encontro, mas que ele não participou da reunião que definiu os R$ 4 milhões, sendo R$ 2 milhões por meio de depósito em uma offshore na Suíça.
No encontro, Delcídio teria dito que tinha acabado de ingressar no PT e não ficaria bem contratar marqueteiro por R$ 2 milhões. Ele planejava pagar R$ 3,7 milhões por fora e só R$ 300 mil por meio de oficial. A empresa negou o acordo e só aceitou fazer a campanha se houvesse o registro oficial de metade, ou seja, R$ 2 milhões.
Metódico, segundo a delação, Delcídio não delegou a negociação nem o pagamento de caixa dois para ninguém. Ele conduziu pessoalmente as negociações. Em um dos casos, a mulher dele, Maika Amaral, recebe Mônica na residência do Jardim Bela Vista e lhe repassou o dinheiro, de R$ 100 mil a R$ 200 mil, em espécie.
A eleição de Delcídio era considerada difícil pelo marqueteiro João Santana, já que ele enfrentava dois figurões da política estadual, o senador Ramez Tebet (PMDB) e ex-governador Pedro Pedrossian. Novato na política, ele surpreendeu ao derrotar o engenheiro de Miranda com o apoio do Correio do Estado. Um dos donos do jornal, Antônio João Hugo Rodrigues, era primeiro suplente.
Após a eleição de Delcídio, a cúpula regional do PT passou a priorizar a reeleição de Zeca do PT, que começou a despencar nas pesquisas no confronto direto com Marisa Serrano (PSDB).
De acordo com Mônica, Santana cobrou R$ 400 mil para assumir a campanha de Zeca. Como o período era inferior a 30 dias, ele topou receber este valor, que teria sido acertado e pago por Delcídio por meio de caixa dois.
No entanto, a mulher do publicitário alegou não ter provas dos pagamentos feitos por Delcídio. O único indicio é a agenda dela, que tem anotações “semelhantes as feitas por adolescentes”, ou seja, com a história nos mínimos detalhes.
Ao ser questionada se guarda agenda de 2002, a empresária disse que tem as agendas arquivadas em casa desde 1990.
Zeca ficou surpreso com a informação de que Delcídio pagou pela sua campanha. “Rapaz não sabia que o Delcidio teria pago algo da minha campanha”, reagiu. “O que sei é que até hoje tem gente reclamando que o Delcidio não pagava nem a campanha dele”, frisou.
Além de negar qualquer irregularidade, o petista pede a apresentação de provas. “Você deve perguntar ao Delcídio ou a Mônica”, recomendou.
Zeca lamentou o momento vivido pelo País, em que o ônus da prova não é mais de quem acusa. “Ou é igual o Moro que acusa com documento sem assinatura”, disse, sobre o juiz federal Sérgio Moro, que exigiu que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), explicasse um contrato sem assinatura encontrado em seu apartamento. “Se não está assinado, não sei, pergunte para quem encontrou”, disse Lula.
“Chega de hipocrisia”, apelou Zeca, que já enfrenta processo na Lava Jato. Um delator da Odebrecht o acusa de ter cobrado R$ 400 mil para a campanha de 2006, quando Delcídio disputou o governo pela primeira vez.
Delcídio é um dos delatores na Lava Jato e acabou sendo vítima do mesmo processo. Ele vem enfatizando nas entrevistas que as delações não procedem e não são verdadeiras.