Principal liderança política de Mato Grosso do Sul nos últimos 20 anos, o italiano André Puccinelli, 68 anos, teve a imagem de “mito” desconstruída a cada nova etapa da Operação Lama Asfáltica. De político sem medo, agressivo, mas cuidadoso com a coisa pública, vem se transformando na versão sul-mato-grossense do ex-governador carioca Sérgio Cabral.
O primeiro pedido de prisão foi feito pela Polícia Federal e pelo MPF (Ministério Público Federal) no início da Lama Asfáltica, em julho de 2015. Na ocasião, o juiz federal Dalton Kita Conrado não autorizou nem o cumprimento de mandado de busca e apreensão no apartamento do ex-governador.
Os “amigos” e considerados de extrema confiança do peemedebista, como o ex-secretário de Obras, Edson Giroto, e o empresário João Alberto Krampe Amorim dos Santos, dono da Proteco Construções, foram presos há dois anos. Giroto foi secretário de Obras nas duas gestões de André na prefeitura e no Governo.
Amorim sempre atuou nos bastidores e atuou como tesoureiro das campanhas de Puccinelli até seu nome se tornar muito visado e submergir nas sombras, apesar de ainda se manter atuante, como provam as interceptações telefônicas feitas ainda na primeira fase da operação. Na época, a PF já tinha divulgado imagens do então governador usando jatinho de Amorim.
Na segunda fase, já sob o comando da juíza Monique Marchioli Leite, a Justiça foi mais incisiva com o ex-governador, bloqueando todos os bens e ainda determinando a sua condução coercitiva.
Nessa operação, realizada em maio do ano passado, ainda prevaleceu o poder do mito. Puccinelli foi à delegacia no carro do advogado e até brincou com os jornalistas, de que tinha ido ao local para visita de cortesia e tomar conhecimento das investigações. Lorota, só cumpriu a determinação judicial de ser conduzido coercitivamente.
Ontem, na quarta fase, a juíza Mônique Leite foi além. Ainda livrou o ex-governador do vexame de cumprir prisão preventiva – solicitada pela segunda vez pela força tarefa – em uma cela da Polícia Federal ou ser conduzido para uma das celas especiais no complexo penitenciário da Capital, onde já dormiram os seus amigos.
No entanto, a principal liderança do PMDB não ficou livre de deixar o patronato com tornozeleira eletrônica diante dos holofotes da mídia estadual. A situação começou a mudar, tanto que o político, sempre aberto fazer declarações polêmicas, saiu em silêncio. Não abriu a boca nem para alegar inocência.
No entanto, ele está numa sinuca de bico. Se não pagar a fiança de R$ 1 milhão, corre o risco de ver a prisão monitorada ser convertida em preventiva. Com os bens bloqueados, poderá recorrer aos amigos, aos “laranjas” ou ao dinheiro supostamente desviado dos cofres públicos?
Esperta e sagaz, a jovem juíza, empossada há seis anos, deu xeque mate no “mito”, que sempre tinha saída para todo.
O famoso criminalista Renê Siufi não poderá usar os mesmos argumentos de sempre para tirar a tornozeleira do cliente. A mais comum é a de que o réu tem residência fixa. Ótimo, vai poder continuar em casa sendo monitorado à distância.
A outra é de que tem trabalho. Também vai poder continuar exercendo as atividades normais, desde que volte para a casa às 21h. Como só tem se dedicado aos netos, que são crianças e dormem cedo, o ex-governador vai continuar curtindo a vida de “votorista” sem transtornos.
Agora, se o ex-governador não arrumar R$ 1 milhão até hoje, a juíza terá nova oportunidade de despachar e determinar a prisão preventiva.
E o ex-governador, que já se animava a fazer campanha para suceder o atual governador Reinaldo Azambuja (PSDB), pode conhecer um novo tipo de eleitor.