Sem dinheiro para garantir atendimento de qualidade na saúde, o Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian já pagou R$ 90,5 mil em salários ao secretário municipal de Saúde de Campo Grande, Marcelo Luiz Brandão Vilela. Ele está recebendo sem trabalhar porque o processo de cedência esbarrou na burocracia e não foi concluído quase cinco meses depois de iniciado.
Médico urologista, Vilela recebe R$ 22,6 mil por mês do HR, conforme O Jacaré divulgou na segunda-feira. Segundo a assessoria da Secretaria Estadual de Saúde, o processo já está na Secretaria Estadual de Administração e Desburocratização. O pedido foi aprovado pela Fundação Estadual de Saúde, responsável pela gestão do hospital.
O Governo assegura que o médico será obrigado a ressarcir os cofres públicos após a publicação referente ao período em que recebeu sem trabalhar.
Em nota, por meio da assessoria de imprensa, o secretário já tinha responsabilizado a burocracia pelo pagamento de salário por ocupar um “cargo fantasma” no Regional. Ele não tinha se manifestado sobre a devolução do dinheiro.
É a primeira cedência demorada de um funcionário para assumir o primeiro escalão de uma prefeitura. Geralmente, a cedência é publicada antes dele ser nomeado para a nova função.
Além de receber os R$ 90,5 mil do HR, Marcelo ainda recebe R$ 4,3 mil por mês da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) para despachar duas vezes por semana no Hospital Universitário.
De janeiro a março deste ano, como secretário municipal de Saúde, ele recebeu R$ 12 mil por mês, considerando-se os valores pagos no período. O valor ficou acima do salário de secretário, que é de R$ 11.619,70.
O pagamento de super salário ao titular da pasta causa espanto porque falta dinheiro para garantir atendimento melhor à população, como compra de medicamentos, de materiais básicos e até vagas nos postos de saúde e hospitais.
Marcelo Vilela ainda comanda a negociação com os médicos, que exigem reajuste salarial de 79%, de R$ 2,5 mil para R$ 4,5 mil. Sem reajuste há três anos, a categoria ameaça cruzar os braços, o que pode agravar o caos – se isso é possível – na rede pública de saúde.
O secretário até aceita dobrar o salário dos médicos, de R$ 2,5 mil para R$ 6 mil, mas exige que eles passem a trabalhar 24 horas por semana, contra as 12 atuais. Ou seja, ele não aceita pagar o mesmo que recebe para comparecer duas vezes ao HU (R$ 4,3 mil).
A principal dúvida é saber se o dinheiro pago a Marcelo Vilela será devolvido quando a cedência for publicada e for oficializado o seu afastamento do HR?
Aliás, o pagamento para funcionário de outra pasta parece rotina no HR. O superintendente de Relações Institucionais da Sesau, Antônio Lastória, recebeu R$ 1.670,23 como vantagens eventuais em março. Ele cumpre dedicação integral na secretaria, onde recebe R$ 17,1 mil por mês, mais que um secretário municipal.