A Operação Perfídia, da Polícia Federal, é marcada por fatos surreais, absurdos e números inacreditáveis. O realismo fantástico não está apenas na história do empresário campo-grandense M.A. de O.S., 29 anos, que foi dado como morto e responsável pela transação de US$ 4,8 bilhões na Venezuela.
A história do empresário está mais para as novelas com realismo fantástico de Aguinaldo Silva. Inicialmente, conforme a investigação, M.A. de O.S. morreu aos 26 anos em Campo Grande. Na segunda-feira, O Jacaré conversou com o empresário, que apareceu estar mais preocupado em provar que está vivo do que a inocência no caso.
O “atestado de óbito” foi dado pela Receita Federal, que cancelou o CPF antigo. Aqui aparece o primeiro absurdo da história: se sabia que o titular tinha morrido, porque o Fisco, tão severo e metódico na cobrança dos impostos, deu novo CPF ao “morto”.
M.A. de O.S. está vivo e tem outra versão para o cancelamento do CPF. Ele diz que teve os documentos roubados em 2012 em Poconé (MT) e um bandido lhe causou inúmeros transtornos ao lhe tomar a identidade.
O empresário chegou a responder por alguns crimes em Corumbá (MS), como estelionato e apropriação indébita em 2012. Ele não só nega os crimes, como acusa o responsável pelo roubo dos documentos pela mancha no currículo.
O segundo absurdo, inacreditável, é que a quadrilha da advogada Cláudia Chater, presa na operação, fez uma transação de troca da moeda venezuelana por dólares no ano passado. M.A. de O.S. seria o responsável pela offshore Global Recreative Sistem, que fez o câmbio de US$ 4,833 bilhões, o equivalente a R$ 15,3 bilhões – quantia equivalente ao orçamento de quatro anos da Prefeitura de Campo Grande, com 22 mil servidores públicos.
O terceiro absurdo envolve a Fazenda Grande Leste, no município de São Desidério, na Bahia, que teria 5 milhões de hectares. M.A. de O.S. estaria negociando a área, segundo relatório da PF, por R$ 68,5 milhões.
Toda vez que posta a matéria, O Jacaré é questionado por leitores de que o tamanho da área é absurdo, sem veracidade. O leitor tem razão.
São Desidério tem 15.116 quilômetros quadrados, o que equivale a 1,511 milhão de hectares. A propriedade teria cinco vezes o tamanho do município. De acordo com a prefeitura local, a área cultivável é de 639 mil hectares. A cidade é uma das maiores produtoras de algodão do Brasil.
M.A. de O.S., que é dono da transportadora em São Paulo, nega qualquer relação com a transação e a compra da fazenda. “R$ 68,5 milhões seria uma benção, porque não ia mais precisar trabalhar e só ia cuidar de boi”, afirmou o empresário.
Ele teve documentos e computador apreendidos pela PF no dia 26 de abril em São Paulo. Agora, além que é inocente, ele está preocupado em provar que está vivo.