A citação do ex-governador André Puccinelli (PMDB) na lista da Odebrecht deve sepultar o sonho do seu partido retornar ao governo de Mato Grosso do Sul. Deputados peemedebistas já não escondem mais que articulam para indicar o candidato a vice-governador na chapa de Reinaldo Azambuja (PSDB), que deverá disputar a reeleição.
Antes da Odebrecht, que o acusa de ter cobrado e recebido propina de R$ 2,340 milhões em 2010, o ex-governador dava como certo a disputa. Diariamente, ele era procurado por prefeitos, vereadores e lideranças políticas de todas as regiões do Estado.
Mesmo pregando que deseja ser “vovotorista”, a junção das funções de avô e motorista dos netos, o peemedebista tinha motivos para sonhar com o retorno ao Parque dos Poderes. A gestão tucana é pífia e medíocre, com déficit contínuo nas contas estaduais e sem grandes obras, Reinaldo só mantém a fama de que gosta de aumentar impostos.
O problema de Puccinelli era a famosa e lenta Operação Lama Asfáltica, que arrastou para a cadeia pessoas de sua estrita confiança, como o ex-secretário de Obras Edson Giroto e o ex-tesoureiro de suas campanhas, o empresário João Amorim.
No entanto, ele contava com a sorte e o tempo. Como a Polícia Federal não emprega o mesmo ritmo da Lava Jato, a Lama Asfáltica corre o risco de chegar em 2018 sem punir ninguém. Com a eleição de governador, André voltaria a ter direito a foro privilegiado e a investigação subiria para o Superior Tribunal de Justiça.
Para desgraça de uns e alegria de outros, Puccinelli acabou citado na Lava Jato e poderá ser investigado pelo juiz federal do Paraná, o famoso e rápido Sérgio Moro. Este é o risco, veja o caso do poderosíssimo e corrupto em ação há décadas, como é o caso do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB), que já foi preso e condenado a 15 anos de prisão.
A citação do nome do ex-governador por dois delatores da Odebrecht complicam o seu futuro político. Segundo Pedro Augusto Leão Carneiro, o ex-governador aceitou pagar a dívida de R$ 79 milhões do Governo com a empreiteira, mas exigiu desconto de 70%. Não contente, ainda condicionou o pagamento da dívida ao dízimo de 10% do valor, uma propina, que representou R$ 2,340 milhões repassados em dinheiro vivo para a campanha a reeleição de governador em 2010.
A situação ficou mais complicada porque os delatores, incluindo João Antônio Pacífico, contaram que a propina foi negociada por dois homens de confiança do ex-governador: Giroto e Amorim. Além de enrolá-lo com o escândalo da Odebrecht, eles o amarraram com a Operação Lama Asfáltica, que já chegou a prender os “homens de confiança” do peemedebista em mais de uma ocasião.
Oficialmente, o PMDB vai esperar a palavra final do ex-governador no dia 1º de julho. Contudo, nos bastidores, sob a liderança do novo líder do partido, o presidente da Assembleia Legislativa, Junior Mochi, já até negocia a composição da chapa para as eleições de 2018.
Mochi até já conta com o apoio da bancada para ser o candidato a vice-governador na chapa de Azambuja, sonhando em repetir a trajetória de outro ex-prefeito de Coxim, Moacir Kohl, que foi vice-governador na chapa de Zeca do PT.
Neste cenário, o partido até poderia incluir Waldemir Moka (PMDB) na negociação, já que o mandato de senador termina em 2018. Mas podem sacrificá-lo em nome do acordo com o PSDB,que assume o papel de protagonista na política regional e deixa para o PMDB o eterno papel de coadjuvante, que se contente com a vaga que sobrar.
A situação é complicada para o PMDB porque os principais nomes ao Senado não são filiados ao partido, enrolado até o pescoço em denúncias de corrupção em nível nacional. O juiz federal Odilon de Oliveira sonha com a vaga, mas deve disputá-la pelo PDT, que já conta com o seu filho, o vereador Odilon Júnior.
O segundo nome é o ex-prefeito Nelsinho Trad, que está no PTB, tem o aval do irmão, o prefeito Marquinhos Trad (PSD) e não tem motivos para voltar a ser refém do PMDB.
O terceiro é a vice-governadora Rose Modesto (PSDB), que tem o apoio de parte dos evangélicos e só deve abrir mão da vaga na chapa para ser acomodada em outro cargo importante.
O quarto é o ex-governador Zeca do PT, que mesmo condenado em segunda instância, ainda tem esperança de suspender a sentença e reabilitar o nome para disputar a vaga de senador.
Sem adversários, Reinaldo ainda fica na torcida para que as investigações avancem a tempo do principal adversário na disputa não conseguir nem votar em 2018.