O nome de um jovem morto em Campo Grande em 2013 foi usado por uma organização criminosa em transação de R$ 15,3 bilhões na Venezuela e na compra de fazenda avaliada em R$ 68,5 milhões na Bahia. A revelação consta da investigação feita pela Polícia Federal, que desarticulou a quadrilha liderada pela advogada Cláudia Chater.
M.A. de O.S. nasceu em Campo Grande em 23 de agosto de 1987. Conforme a investigação da Polícia Federal, ele morreu aos 26 anos em 2013. No ano seguinte, o nome de M.A. de O.S. foi usado para pedir novo CPF, que foi emitido pela Receita Federal. Com o documento, ele obteve passaporte.
Com os documentos, foi aberta a transportadora com sede em São Paulo (SP). Em seguida, M.A. de O.S. tornou-se dono da offshore Global Recreative Sistem GRJ CA, localizada na Venezuela. Ele foi o interposto da empresa na transação de US$ 4.833.333.333,33, o equivalente a R$ 15,3 bilhões (mais que o orçamento anual do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, em torno de R$ 13,5 bilhões).
O “campo-grandense” fez a transação com o ebanking PASPXPLC, de Copenhagen, na Dinamarca. Essa troca de moedas venezuelanas por dólares ocorreu em 20 de abril do ano passado.
Ainda conforme o núcleo de inteligência da Polícia Federal, o nome de M.A. de O.S. foi usado na compra da Fazenda Grande Leste, com 5 milhões de hectares, no município de São Desidério (BA). O imóvel estava em inventário e custou R$ 68,5 milhões.
Logo após estas transações, conforme documentos apreendidos no escritório de Cláudia Chater, M.A. de O.S. repassou a Global para Simei Bezerra da Silva, proprietário de três empresas na área de segurança em Brasília, e J. P. de P. N., dono de empresa de vigilância.
A família Chater foi o principal alvo da Operação Perfídia, realizada ontem pela Polícia Federal, que cumpriu um mandado de condução coercitiva em Campo Grande.
A organização criminosa usava certidões de nascimento falsas para comercializar passaportes brasileiros para árabes. Um estrangeiro preso em 2016 revelou que pagou US$ 20 mil para obter documento. Até um policial federal do Distrito Federal é acusado de ajudar o grupo criminoso.
Eles possuíam offshores na Venezuela e nos Estados Unidos e usavam postos de gasolina, motéis, agências lotéricas e fazendas para dissimular e ocultar bens em nomes de terceiros.
A advogada e a irmã, Mary Christina Chater, já foram presas em 2003, quando tentavam sacar R$ 180 mil desviados do FGTS na agência do Santander na Câmara dos Deputados.