As evidências da compra de voto são claras. Houve crime eleitoral em Fátima do Sul. No entanto, mesmo cassada duas vezes pela juíza eleitoral Rosângela Alves de Lima Faria, Ilda Salgado Machado (PR) continua no cargo de prefeita. Em outras cidades, bastava uma cassação e indícios para afastar o prefeito.
No entanto, a história reflete a influência e o poder do ex-deputado Londres Machado, presidente regional do PR, marido de Ilda.
Deputado estadual por 10 mandatos consecutivos e presidente da Assembleia Legislativa em sete ocasiões, ele só deixou de frequentar o Palácio Guaicurus para ceder a vaga para a filha, a deputada estadual Graziele Machado (PR).
Londres sempre foi governo – integrou a base aliada dos governadores biônicos indicados pelos militares e até de um petista eleito pelo voto direto – e teve influência na composição do Tribunal Regional Eleitoral (TRE), responsável pelo julgamento em segunda instância da mulher. O órgão tem o poder de agilizar o processo e afastar a prefeita do cargo.
No entanto, além do poder de Londres Machado, nada muda em Fátima do Sul. É como o Brasil de José Sarney (PMDB), que só continuou na ativa porque mudou domicílio eleitoral do Maranhão para o Amapá. O ex-senador continua influente até hoje e manteve até o foro privilegiado na Lava Jato, apesar de não ter cargo nenhum, graças a influência no Supremo Tribunal Federal.
O caso de Fátima do Sul é emblemático. A primeira cassação já tinha prova cabal da compra de votos. A candidata aparece em vídeo gravado tirando dinheiro do sutiã para comprar votos. Ela pagou R$ 700 pelos votos de uma família.
Cinco meses após a primeira sentença, a ex-mulher de Londres segue soberana na pequena cidade.
Nova denúncia e novo julgamento confirmam os crimes de compra de votos. Segundo a denúncia do MPE, Gleisson Passos de Miranda, pediu remédio para tratar infecção urinária da esposa, Tereza. Juliano Carvalho Leite comprou o remédio por R$ 14 e mandou a esposa, a professora Aline Pereira da Silva, entregar para a “amiga”.
Além disso, Juliano orientava os eleitores a escreverem bilhetes com os pedidos em troca de votos. Gleisson fez um bilhete: pediu R$ 300 para pagar o licenciamento do carro e ofereceu três votos da família pela quantia.
A certeza da impunidade foi tão grande, que mesmo com o escândalo da Lava Jato ruminando o noticiário 24 horas por dia, os cabos eleitorais de Ilda orientavam os eleitores a produzirem a prova do crime: os bilhetinhos direcionados à candidata.
Alheia ao poder de Londres Machado no Estado, a juíza eleitoral Rosângela Fávero decretou a perda do cargo, a anulação dos votos, multa e inegibilidade por oito anos. Como ela foi eleita com mais de 51% dos votos, Fátima do Sul deve ter novas eleições.
Agora, a lei só será cumprida quando a Justiça agir com independência e sem as sombras do passado.