Executivos da Odebrecht desmentiu a delação premiada firmada pelo ex-senador Delcídio do Amaral e revelou que ele cobrou propina de R$ 4 milhões para incluir a inexperiente UTC na obra de ampliação da polêmica refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O pagamento teria sido acertado em reunião no escritório de Nestor Cerveró, na Petrobras.
A delação premiada foi uma das condições que levaram o MPF (Ministério Público Federal) e o relator da Operação Lava Jato no Supremo Tribunal Federal, ministro Teori Zavascki, a concordar com a soltura do ex-líder do Governo.
Delcídio foi preso no exercício do mandato de senador acusado de tentar comprar o silêncio e ajudar na fuga de Cerveró. Na época, o ex-diretor da Petrobras negociava fazer a delação premiada.
O depoimento de Rogério Santos de Araújo, um dos 78 executivos e ex-executivos da Odebrecht a firmar acordo de delação premiada com a Força Tarefa da Lava Jato, ocorreu em 12 de dezembro do ano passado. Ele contou detalhes do suposto pagamento de R$ 4 milhões para a campanha de Delcídio a governador de Mato Grosso do Sul em 2006, quando perdeu para André Puccinelli (PMDB).
No vídeo de 20 minutos, Rogério diz que a companhia brasileira comprou Pasadena em fevereiro de 2006 e planejava ampliá-la. Como tinha experiência de 16 anos nos Estados Unidos, a Odebrecht manifestou interesse em realizar a obra. Na época, outras três empresas tinham condições de participar: Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e OAS. No entanto, as empreiteiras não tinham interesse.
Ao voltar a falar do assunto com a Petrobras, Rogério diz que ficou sabendo que Delcídio conseguiu incluir a UTC, de Ricardo Pessoa, para participar da obra de Pasadena, apesar da empresa não ter experiência internacional, porte nem capacidade técnica para o empreendimento.
No entanto, em reunião realizada no escritório de Cerveró na Petrobras, com a participação de outro diretor, Renato Duque, Pessoa e Delcídio, eles acertaram o pagamento da propina milionária. Só para se ter ideia do montante, toda a campanha de Delcídio ao Governo em 2006, segundo a declaração feita à Justiça Eleitoral, custou R$ 4,2 milhões.
Rogério acredita que a propina foi paga, porque o dinheiro era para a campanha e o negócio só não deu certo após o fechamento das urnas em 2006. Contudo, ele não tem provas de que Delcídio recebeu o dinheiro. “O contrato não saiu, mas o pagamento pode ter ocorrido na expectativa da obra”, conclui.
Ao fechar o acordo de delação, que lhe livrou da prisão e de outras condenações no âmbito da Operação Lava Jato, o ex-senador negou ter cobrado propina no caso de Pasadena. Para pessoas envolvidas na investigação, ele pode se comprometer no caso e perder benefícios previstos na delação.
Delcídio tem uma ficha de acusações de caixa dois e cobrança de propina.Além dos R$ 4 milhões da UTC, ele foi acusado de receber R$ 5 milhões via caixa dois para a campanha à reeleição em 2010.
Também é acusado de receber R$ 500 mil por ter sido o relator da lei que concedeu benefícios fiscais na PRS 72, conhecida como “Guerra dos Portos”. Neste caso, também é investigado o líder do Governo no Congresso, senador Romero Jucá (PMDB).
Outra propina de R$ 591 mil foi paga em negócio junto com o senador Humberto Costa (PT).