A Construtora Odebrecht pagou em espécie o “dízimo” ao ex-governador André Puccinelli (PMDB), cujo apelido era “Pizza”. Os R$ 2,3 milhões foram pagos em três parcelas ao empresário João Alberto Krampe Amorim dos Santos. O valor da propina foi acertado no gabinete da Secretaria Estadual de Obras, na época, comandada pelo ex-deputado federal Edson Giroto.
Os detalhes do acerto constam do depoimento do segundo delator e ex-executivo da empresa, Pedro Augusto Carneiro Leão, prestado no dia 14 de dezembro do ano passado ao Ministério Público Federal do Piauí. (Confira o vídeo na íntegra aqui)
Leão confirma a delação feita pelo ex-executivo João Antônio Pacífico Ferreira, outro ex-dirigente da empresa. A Odebrecht fechou acordo de delação premiada na Operação Lava Jato e desvendou o maior esquema de corrupção da história brasileira.
Puccinelli assumiu o Governo em 2007 e suspendeu o pagamento à construtora, que tinha feito acordo extrajudicial na gestão de Zeca do PT. Na época, a construtora entrou com ação de cobrança de R$ 79 milhões na Justiça. Enquanto negociava o pagamento nos bastidores, na época, o peemedebista bradava e xingava a empreiteira em entrevistas à imprensa, nas quais a acusava de tentar inviabilizar a administração estadual.
Somente em meados de 2010, conforme Pedro Leão, André o convocou para conversar sobre o pagamento. Na ocasião, o então governador alegou que o desconto de 70% era a justificativa que ele precisava para pagar o débito sem a ação tramitar em julgado.
O ex-executivo disse que o governo constatou que a dívida era legal e a origem era justa. A Odebrecht cobrava pela pavimentação de duas rodovias estaduais nos anos 80, que não foram pagos pelo Estado.
No entanto, além do desconto de 70%, que reduziu a dívida de R$ 79 milhões para R$ 23,4 milhões, o ex-governador pediu ajuda financeira para a campanha à reeleição. Na ocasião, conforme o delator, o peemedebista autorizou que Giroto mantivesse as negociações.
O acordo para o pagamento pelo Estado e da propina foram acertados no gabinete da Sesop, no Parque dos Poderes, e contou com a participação do empresário João Amorim. Leão deixa claro que o empreiteiro – investigado na Operação Lama Asfáltica ao lado de André e Giroto – também era de extrema confiança do então governador. “Não era do Governo, mas fechou o entendimento com desconto e o repasse de 10%”, enfatizou o delator.
A Odebrecht recebeu duas das cinco parcelas no dia 23 de agosto de 2010. Após efetuar os primeiros pagamentos, o ex-governador pediu que a empreiteira lhe antecipasse integralmente o valor da propina.
Pedro Leão conta que voltou a discutir o assunto com Pacífico e eles chegaram a conclusão de que valeria a pena correr o risco, já que o peemedebista era o favorito a vencer a eleição. Puccinelli derrotou Zeca do PT no primeiro turno.
Então, eles efetuaram o pagamento dos R$ 2,340 milhões a “Pizza”, nome usado para definir o ex-governador. O pagamento foi feito em dinheiro vivo ao empresário João Amorim, que recebeu a senha e o endereço. O primeiro repasse foi de R$ 1,170 milhão em espécie. Depois foram mais dois, de R$ 585 mil cada.
Após a empresa cumprir o acordo, mesmo sem o Estado repassar o restante, Giroto, que ganhou o apelido de “Carrossel”, pediu R$ 300 mil. A empresa o viu como um boa aposta e autorizou o pagamento.
Neste caso, o pagamento foi feito ao empresário João Amorim, que se hospedou no Hotel Renaissance, em São Paulo.
Pedro Leão contou que as provas da acusação contra André , Giroto e Amorim são o acordo extrajudicial firmado com o Estado, emails internos e externos e o agendamento dos pagamentos.
Em nota à imprensa, o ex-governador rechaçou a denúncia.
“O governo do estado negociou com o ACOMPANHAMENTO da PGE (Procuradoria Geral do Estado ) uma dívida do governo do PT de 79 milhões por 24 milhões em quatro parcelas fixas e mensais.
2 – EU não pedi qualquer vantagem pessoal mesmo porque tendo exigido junto com a PGE (SETENTA POR CENTO DE DESCONTO), seria inverossímil acreditar que contribuíssem para minha campanha.
3 – Estou à disposição da justiça, como sempre estive, e sou político que sempre abriu mão dos sigilos bancário e fiscal desde o primeiro mandato eletivo, até hoje”, frisou no comunicado.
Como o pagamento foi feito em espécie e sem depósito em conta bancária, de nada vai adiantar o sigilo do ex-governador. Ele não informou nenhuma contribuição da Odebrecht na prestação de contas da campanha à reeleição em 2010.
André e Giroto são investigados na Operação Lama Asfáltica, onde investigações já apontaram superfaturamento de R$ 44 milhões em obras realizadas pelas empresas de João Amorim.