O ex-senador Delcídio do Amaral cobrou o repasse de R$ 5 milhões da Odebrecht no café da manhã realizado na suíte do Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. A empresa repassou R$ 5 milhões para a campanha dele a governador pelo PT em 2014 por meio de caixa dois. O dinheiro foi entregue ao então assessor, coronel Ângelo Rabelo.
Os detalhes do pagamento ao ex-petista foram feitos pelo ex-presidente de Infraestrutura da Odebrecht, Benedicto Barbosa da Silva Júnior. O depoimento como parte da delação premiada foi prestado no MPF (Ministério Público Federal) do Rio de Janeiro em 16 de dezembro do ano passado. O vídeo tem 15 minutos e 46 segundos.
Conforme BJ, o ex-senador tinha dois apelidos na lista do Setor de Operações Estruturadas, mais conhecido como departamento da propina, da Odebrecht. O mais óbvio era “Grisalhão”, por causa da cabeleireira branca. Já “Ferrari” era porque ele era considerado “muito acelerado”.
Em junho de 2014, a pedido do presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, preso em Curitiba, ele viajou até o escritório da companhia em São Paulo para conversar com o então senador. Candidato a governador de Mato Grosso do Sul e apontado como favorito por todas as pesquisas, Delcídio pediu R$ 5 milhões.
BJ ponderou que o valor era muito alto pelo tamanho do Estado. No entanto, considerando que ele era líder com boa representatividade no parlamento e tinha boa relação com a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ambos do PT, ele concordou em pagar o valor solicitado.
Dias depois, o delator não soube precisar se foi julho, agosto ou início de setembro, voltou a ser procurado pelo então candidato. Delcídio o convidou para um café da manhã na sua suíte no Copacabana Palace, hotel de luxo no Rio de Janeiro, onde lhe cobrou o repasse dos R$ 5 milhões.
Benedicto Júnior revelou que acertou o valor e combinou o pagamento com o coronel Rabelo, então assessor de Delcídio. Ele era o encarregado pelo recebimento das senhas, códigos e pelo dinheiro.
Após a eleição, na qual o ex-petista foi surpreendido pelo azarão Reinaldo Azambuja (PSDB), BJ disse que não voltou a ter mais contato com Delcídio.
O pagamento foi feito via caixa dois, como a empresa definiu os repasses feitos sem a exigência de contrapartida ou sem desvio de um contrato específico.
Neste caso, o ex-senador deverá ser julgado pelo juiz Sérgio Moro, o titulo das ações envolvendo a Lava Jato em primeira instância no Paraná. A designação foi feita pelo ministro Edson Fachin, relator do escândalo no Supremo Tribunal Federal.
Também foi citado por outro delator, que teria cobrado R$ 4 milhões na eleição de 2006, quando disputou o governo pela primeira vez. O valor repasso em 2010 não foi divulgado pelos delatores da Odebrecht.