Fundado há 37 anos, atolado em denúncias de corrupção, sem dinheiro e sem ocupar nenhum cargo executivo, o PT ainda encontra fôlego para mobilizar a militância em Mato Grosso do Sul. Com o fundo partidário bloqueado pela segunda vez a partir deste mês, a legenda vai dar sinal de vida no domingo, quando aproximadamente 10 mil dos 40 mil filiados devem ir às urnas para escolher os novos dirigentes em 60 municípios e os 250 delegados para o encontro regional de maio.
O Partido dos Trabalhadores já chegou ao mais alto cargo no Estado – famoso pelo conservadorismo e pelo poder dos grandes produtores rurais – e conseguiu eleger um sindicalista, Zeca do PT, governador por dois mandatos.
No entanto, ao enfrentar o quarto mandato no comando do Palácio do Planalto, com Dilma Rousseff (PT), o partido sofreu desgaste a jato. Com a petista apeada do poder, por um rumoroso e polêmico processo de impeachment, o PT começou a sofrer desgaste com a crise econômica e as denúncias de corrupção evocadas diuturnamente pela mídia tradicional e pelos fakes da direita.
Apesar de contar com apenas um deputado envolvido com a Lava Jato no Estado, Vander Loubet, a sigla sentiu o golpe em Mato Grosso do Sul e não elegeu nenhum prefeito nas eleições do ano passado.
O outro golpe foi a prisão do então senador Delcídio do Amaral, um dos caciques do partido, acusado de articular a fuga do delator Nestor Cerveró.
Para complicar o cenário, o Tribunal de Justiça acatou pedido do Ministério Público e condenou o deputado federal Zeca do PT, outra estrela, tornando-o ficha suja e inelegível por oito anos. O ex-governador promete recorrer, mas não deve chegar às eleições tão forte quanto antes da sentença.
Não bastasse esse cenário desolador, a Justiça determinou o bloqueio do fundo partidário da sigla por nove meses a partir de abril. O bloqueio ocorreu por causa de problemas na prestação de contas da campanha ao governo de Zeca do PT em 2010. A Justiça Eleitoral detectou saque de R$ 1,3 milhão na boca do caixa para pagar dívidas de campanha.
Em tempos de crise, os R$ 70 mil mensais do fundo partidário podem fazer a diferença em eleição que ocorrerá sem financiamento empresarial.
Com tudo isso, o PT ainda tem forças para mobilizar a militância. No domingo, cerca de 60 municípios devem escolher os novos presidentes municipais. Em Campo Grande, cinco candidatos disputam o comando do diretório municipal.
Zeca fechou com a candidatura de Agamenon do Prado, que foi secretário estadual do Trabalho e afastado no rumoroso “escândalo do FAT” em 1999. O atual presidente regional, ex-deputado federal Antonio Carlos Biffi fechou com Maria Rosana. A esquerda lançou Orlando de Almeida. E João Grandão corre por fora com Ricardo Duailibi.
A expectativa dos dirigentes é que 10 mil filiados devem participar dos debates e da votação, que vão ocorrer nas câmaras municipais.
O principal embate será pelo controle do diretório regional. Biffi, que assumiu após o então prefeito de Corumbá, Paulo Duarte, renunciar, pretende continuar no comando.
Aliás, Duarte foi secretário de Fazenda, Governo e Infraestrutura na gestão de Zeca do PT e é um dos símbolos da crise na sigla. Ele se filiou ao PDT e já estaria próximo do PMDB, adversário histórico dos petistas no Estado.
Zeca já declarou guerra ao atual presidente, mas ainda não definiu o seu candidato a regional. O projeto do ex-governador é assumir a legenda para negociar sua candidatura ao Senado em 2018, em aliança que incluiria todo mundo que fosse contra o atual governador, Reinaldo Azambuja (PSDB).
O ex-prefeito de Mundo Novo, Humberto Amaducci, é o candidato da esquerda para o diretório regional.
A votação neste domingo já vai indicar a força de cada um dentro do PT. Se ganhar, Zeca não terá motivos para sair. Agora, se o jogo de forças for favorável a Biffi, o ex-governador continua na legenda que lhe garante o apelido?