A Santa Casa de Campo Grande é uma instituição privada, gerida por filantropos, mas só funciona porque 80% da receita é bancada pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Outro detalhe, apesar do atendimento aos pacientes estar precário por causa do déficit, o hospital ainda é mina de dinheiro para os administradores.
Reportagem do Correio do Estado de hoje desnuda um pouco dos interesses envolvidos no controle da instituição, criada há 93 anos para ajudar aos pobres a partir da doação dos mais ricos.
Nestas nove décadas, as intenções no entorno do estabelecimento se inverteram. Inicialmente, os ricos da cidade viam na Santa Casa da Misericórdia a oportunidade de fazer caridade e doavam parte dos bens como forma de espiar os pecados.
Hoje, na era da pós-verdade, os poderosos enxergam a instituição como a chance de ampliar os lucros, ampliar os negócios e até garantir a “boquinha”.
O atual presidente da Associação Beneficente de Campo Grande, Esacheu Nascimento, não cobra um tostão para administrar o hospital. No entanto, seu escritório prestou serviços para a instituição e foi à Justiça para cobrar honorários de R$ 1,8 milhão. A divida é cobrada junto com os advogados Carmelino Rezende e Ascanio Nantes, de acordo com o Correio do Estado.
Este é o problema da Santa Casa, os interesses que movem os beneméritos de hoje. Eles definem quem são os dirigentes com altos salários, as clínicas terceirizadas, os escritórios de advocacia, os laboratórios… e todas as empresas são escolhidas pela diretoria da ocasião, sem licitação pública e transparente.
Aí surge o principal questionamento: a Santa Casa é uma instituição privada, não deve satisfação a ninguém. Não deveria mesmo, se o atendimento fosse apenas privado e particular. E o mais importante, se não se sustentasse com dinheiro público.
Infelizmente, o poder público e os órgãos de fiscalização (MPE, MPF, MPT e até a Justiça) falharam, porque mantiveram o hospital sob intervenção por sete anos e não foram capazes de por fim aos vícios já revelados na terceirização e ao cabide de empregos.
A solução da Santa Casa só surgirá quando voltarem os beneméritos da década de 20 do século passado, que só tinham a intenção de espiar seus pecados e faziam doações sem segundas intenções.