Apesar da Prefeitura de Campo Grande enfrentar a mais grave crise econômica da sua história, Marquinhos Trad (PSD) ignorou 85 mil uniformes estocados, optou pela compra sem licitação e produtos até 88% mais caros em relação aos antecessores.
E para minimizar a denúncia, que gastou mais para a empresa do pequeno município do interior de São Paulo, o prefeito inflou o valor e incluiu os uniformes adquiridos por Gilmar Olarte na compra feita por Alcides Bernal (PP). O Jacaré foi desvendar as versões sobre a polêmica compra e, a seguir, revela o jogo dos sete erros da atual administração.
O primeiro foi repetir o erro do antecessor e não entregar os 85 mil uniformes estocados na Secretaria Municipal de Educação. Com o tempo, as roupas vão estragar e será mais dinheiro jogado fora.
Em uma das escolas visitadas, Marquinhos até deu uma explicação para não utilizar o uniforme adquirido por Gilmar: “as crianças cresceram”. O vestuário não foi comprado para os filhos do prefeito, mas para uma escola, onde as turmas se renovam a cada ano e a média da faixa etária continua a mesma.
“As 85 mil peças não eram suficientes para atender toda rede municipal”, justificou a assessoria do prefeito.
Aqui entra o segundo erro. Como o município está em sérias dificuldades financeiras, o que levou, inclusive a prefeitura a parcelar o pagamento do salário de dezembro e o 13º, Marquinhos poderia adquirir apenas 12 mil peças, para completar o estoque e economizaria, considerando-se o valor médio pago, R$ 6,9 milhões.
Com esta fortuna economizada, o prefeito poderia pagar parte da folha do funcionalismo e até colocar mais medicamentos nas farmácias dos postos de saúde. Ou então garantir a compra antecipada, com licitação e tudo, dos uniformes para o ano letivo de 2017.
No entanto, Marquinhos optou pela compra emergencial e aderiu a ata da Prefeitura Municipal da Estância Turística de Embu das Artes (SP) para comprar da Reverson Ferraz da Silva, de Cerquilho (SP).
No ano passado, Bernal adquiriu uniformes para 104 mil estudantes, com investimento de R$ 4,605 milhões. O gasto médio foi de R$ 44,27 por aluno, 83% mais barato em relação ao desembolsado pelo atual prefeito (R$ 81,19). Marquinhos pagou R$ 7,876 milhões pelo uniforme de 97 mil alunos.
Para minimizar a compra sem licitação e pelo valor desembolsado, “técnicos” do prefeito promoveram devassa nos contratos para explicar o aumento no custo do uniforme. A explicação era de que Bernal pagou R$ 8,6 milhões pelos uniformes em 2016.
O erro, neste caso, está na soma das compras feitas por Olarte, antes de ser afastado e preso. A equipe de Marquinhos colocou na conta de Bernal os 93 mil uniformes adquiridos e entregas em 9 de julho de 2015, conforme revela a nota fiscal assinada por funcionário do município.
Olarte adotou o mesmo modelo de Marquinhos: ele não fez licitação e pegou carona na ata da Prefeitura de Canoas (RS). A entrega foi feita pela Nilcatex, a mesma que venceu a licitação realizada em 2016 por Bernal.
“O ex-prefeito Gilmar Olarte aderiu a ata em 2015, mas quem pagou e entregou os uniformes foi o também ex-prefeito, Alcides Bernal. Somadas, as duas compras chegaram aos R$ 8,3 milhões (R$ 8,6 milhões, na verdade) informados”, reafirmou a assessoria de Marquinhos.
Só faltou explicar que foram duas compras. O material comprado por Olarte, ao custo de R$ 4,012 milhões, foi entregue por Bernal em 2015. Já os uniformes adquiridos por R$ 4,6 milhões em abril do ano passado foram para o ano letivo de 2016.
Além da Capital ter perdido a oportunidade de economizar quase R$ 7 milhões com a compra sem licitação de Marquinhos, pode ter outro prejuízo: de que os 85 mil uniformes estocados apodreçam no almoxarifado da Secretaria Municipal de Educação.
E, para espanto da sociedade, apesar desta história, não se viu nenhum requerimento dos vereadores, tão combativos em relação a gestão Bernal, cobrando explicações. No mesmo retiro do silêncio estão os promotores de Defesa do Patrimônio Público e os conselheiros do Tribunal de Contas.