Com a omissão do poder público, que não cumpre o papel de fiscalizar, o transporte coletivo de Campo Grande segue ruim e caro. Nem os factoides criados pelo prefeito Marquinhos Trad (PSD) e os vereadores, com a prorrogação da isenção do ISS (Imposto sobre Serviços), salvam o setor. Os novos ônibus não oferecem conforto aos passageiros e até – pasmem, no primeiro dia de funcionamento – já apresentam problemas.
O campo-grandense é inteligente e percebe que o transporte coletivo piora a cada dia. Os números mostram que o Consórcio Guaicurus perdeu 13,6 mil passageiros por dia entre 2008 e 2014, segundo dados da Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito). Por ano, são 4,9 milhões de pessoas transportadas a menos.
A situação é agravada pela omissão da Agereg, o órgão regulador do município, que fez vistas grossas e não multou o consórcio por circular com veículos velhos. O presidente da agência, Vinicius Leite admitiu que a frota tinha idade média de sete anos até hoje, quando começaram a circular os novos ônibus (ruins, também, para infelicidade do usuário).
Agora, a frota passará a ter idade média de 4,9 anos, ou seja, no limite do permitido, que é de cinco anos. A prefeitura tem conhecimento de que o contrato está sendo descumprido, mas faz de conta que o problema não é do município.
Neste mês, o prefeito criou um factoide. Primeiro, ele anunciou que não prorrogaria a isenção do ISS, o que causaria aumento de 5% na tarifa de ônibus, no mínimo. Só a volta do tributo elevaria o valor de R$ 3,55 para R$ 3,72. Como o equilíbrio econômico-financeiro consta do contrato, o prefeito seria obrigado a repassar ao usuário o fim do benefício ou as empresas ganhariam o reajuste na Justiça.
Sem saída, Marquinhos recuou e bateu tambores, junto com os vereadores, para divulgar aos quatro cantos de que a tarifa seguirá congelada pelos próximos seis meses. A passagem de ônibus subiu em dezembro. O mínimo que o atual prefeito deve fazer é manter o atual valor até o fim do ano. Não houve congelamento, só se está tentando se manter uma relação de respeito com a população – que ficará tranquila ao saber que reajuste na tarifa é anual.
Além de garantir a isenção, Marquinhos anunciou que fará o que não fez até o momento: vai cobrar melhorias no sistema de transporte. Ele garante que as empresas vão garantir cobertura de 100 pontos, uma mixaria diante da demanda de Campo Grande.
Só os recursos do Pro Transporte, viabilizados ainda na gestão de Nelsinho Trad, que não saíram do papel até hoje, garantem 500 pontos cobertos.
O grande problema no transporte coletivo é que o serviço é ruim e vai continuar assim com as falhas na fiscalização. Falta vontade política do prefeito em melhorar o serviço.
Campo Grande caminha na contramão dos países desenvolvidos, que investiram no transporte público. Aqui, ciente de que o sistema não evolui, a população recorre a motocicleta, bicicleta e automóvel.
E para alegria de muitos, o Uber passou a ser alternativa. Há caso de família, que gastava R$ 17,75 com a passagem de ônibus e fazia longe viagem de duas horas para visitar amigos no domingo. Hoje, com o Uber faz a mesma viagem em 20 minutos e ao custo de R$ 15.
Graças a Deus, que a modernidade chegou ao povo sem a intervenção do poder público. Apesar que o prefeito Marquinhos Trad já sinalizou que não vai facilitar a vida do Uer em Campo Grande.