No domingo, o prefeito da Capital, Marquinhos Trad (PSD), interrompeu o sagrado descanso e foi acompanhar a chegada dos remédios. Gravou até um vídeo para distribuir nas redes sociais de que estava resolvendo o problema da falta de remédios na cidade, que perdura desde que assumiu o mandato.
A farsa começou a ser desmontada com uma reportagem da TV Morena, onde uma mãe, desempregada e sem dinheiro, não encontrou remédio para a filha no posto de saúde. Antes da consulta, fez peregrinação pelas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) para conseguir um pediatra.
A fantasia de que as coisas estavam melhorando caiu por terra de vez com a nota publicada pelo Sindicato dos Médicos, que acompanham de perto a crise na saúde pública do município. A entidade diz que não é verdadeira a informação divulgada pelo prefeito de que já tinha reposto 75% do estoque de medicamentos. As farmácias dos postos e centros regionais de saúde continuam vazias.
Para piorar a situação, segundo o sindicato, a Secretaria Municipal de Saúde passou a divulgar plantões fictícios, que só existem no papel. Além de ser caso de polícia, porque o poder público está disseminando uma realidade que não existe, a medida acirra os ânimos entre pacientes e médicos.
Foi o que ocorreu ontem à noite na UPA do Jardim Leblon. A mãe de uma criança se irritou com a demora e a discussão acabou na delegacia. A médica sofreu arranhões.
O problema é que faltam médicos na rede municipal de saúde. Segundo o sindicato, o déficit é de 500 médicos. A entidade tem razão. A prefeitura tem 10 unidades de emergência e só vem conseguindo garantir pediatras em duas ou três. O problema é antigo.
A única ação efetiva para resolver o problema foi a centralização dos pediatras disponíveis em algumas unidades e disponibilizar esta informação pelo 192 do Samu.
A outra foi do então prefeito Gilmar Olarte (PP), que torrou ainda mais o escasso dinheiro da saúde, ao alugar o prédio do antigo Hospital Sírio Libanês por valor acima do mercado, conforme denúncia do MPE, e implantar o Centro de Atendimento Pediátrico. Alcides Bernal (PP) aproveitou as suspeitas lançadas pela promotoria e desativou o local.
No cargo há quase três meses, Marquinhos não conseguiu resolver a falta de médicos, de remédios e de leitos nos hospitais.
Agora, acuado, o prefeito decidiu “incorporar” o espírito de Gilmar Olarte e partir para o confronto com os médicos. Já ameaçou demitir profissional “ruim”. A imprensa “amiga” já entendeu o recado e começou a responsabilizar os médicos pelo caos na saúde.
O secretário municipal de Saúde, Marcelo Vilela, também partiu para a ofensiva. Como retaliação à queixa do sindicato, de que o salário está sem reajuste há três anos e o piso de R$ 2.516,72 é baixo, ameaça divulgar os salários na internet.
Esta mesma estratégia de guerra, de divulgar os salários, punir e não ter diálogo, foi adotada por Olarte. Os médicos exigiram o reajuste, que na época era de um ano, e iniciaram greve, deixando a população sem atendimento nos postos de saúde.
A queda de braço só foi resolvida com a volta de Bernal, que reassumiu o cargo após determinação do Tribunal de Justiça. A primeira medida do progressista foi conversar com os médicos e encerrar a paralisação. bbb
Agora, voltamos a “era Olarte”, a última em que prefeitura e médicos travaram guerra e penalizaram ainda mais a população dependente do SUS (Sistema Único de Saúde).
Marquinhos deve retomar o diálogo, sob risco, de aprofundar o problema. Em tempos de crise, bravatas só vão complicar ainda mais as coisas, infelizmente.