Pela primeira vez em 26 anos, o Governo estadual retalia greve na educação com corte de ponto. Além disso, a secretária estadual de Educação, Maria Cecília Amendôla da Motta, ameaça punir os grevistas com ações administrativas e até penais. No entanto, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB), só vai prejudicar os cerca de 300 mil estudantes da rede estadual, porque, se não pagar o salário na íntegra, não haverá reposição dos dias parados e a educação fica ainda mais comprometida.
Apesar da cara de “bom moço”, o tucano é o primeiro chefe do Executivo a cortar ponto de professor em greve desde 1991. Nem o ex-governador André Puccinelli (PMDB), com fama de intransigente, recorreu a medida tão extrema. A punição também não foi adotada por Marcelo Miranda, Wilson Barbosa Martins e Zeca do PT.
O único governador na história do Estado, antes de Reinaldo, a punir servidor em greve foi Pedro Pedrossian. Acostumado com a ditadura militar, período em que foi governador por duas ocasiões (MT e MS), ele cortou o ponto e ainda mandou intimar os professores em casa. É famoso o caso, que não foi publicado pelos jornais da época, da notificação de um professor morto. Como o servidor de Fátima do Sul “não foi trabalhar”, Pedrossian determinou o corte da pensão paga à família.
Reinaldo é o único governador no país a punir grevista com corte de ponto. Os demais estados não estão punindo os professores que aderiram à mobilização nacional contra a Reforma da Previdência.
O presidente da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação), Roberto Botarelli, explicou que o corte de ponto pode ser discutido na Justiça. “Tudo é recorrível”, frisou.
E não é apenas isso. Se o tucano cortar o ponto e não pagar os salários, os professores da rede estadual não vão repor às aulas e o ensino ficará comprometido. Os professores não vão trabalhar de graça.
A não reposição de dias parados será somente uma das medidas adotadas pelo atual governo que vão prejudicar da educação. A outra é a superlotação das salas de aula.
Além das bravatas do governador nas entrevistas à imprensa, a secretária enviou ofício às escolas alertando para a adoção de medidas contra quem atrapalhar o “trabalho da secretaria”.
Em comunicado interno, ela ameaça tomar todas as medidas, desde a punição administrativa até penal. Maria Cecília atropela a Constituição, que considera a greve um direito legal do funcionalismo público.
Ao contrário de Pedrossian, que adotou a retaliação seis anos após a democratização, a secretária tucana convive com a democracia há 32 anos, mas ainda não se acostumou com os novos tempos.