Poderosa multinacional brasileira, a JBS, que é alvo de Operação Carne Fraca da Polícia Federal e é acusada de vender carne podre, foi a principal financiadora das campanhas dos candidatos a governador de Mato Grosso do Sul em 2014. A empresa priorizou os candidatos do PSDB e PMDB no Estado, conforme levantamento junto à Justiça Eleitoral. Foram R$ 14 milhões.
O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) foi o principal beneficiado. Só o JBS destinou R$ 10,5 milhões para a sua campanha vitoriosa em 2014. O montante representa quase metade do total arrecadado naquele ano, R$ 25,3 milhões. Outra empresa investigada na operação, a BRF S.A. destinou R$ 200 mil ao tucano.
Neste ponto, fica claro que o grupo priorizou o candidato com chance de vencer a disputa. Mato Grosso do Sul é um dos 4º maior produtor de gado de corte do país, o que explica o interesse do grupo em manter boas relações com o governo.
O segundo maior beneficiado foi o candidato a governador Nelsinho Trad, que estava no PMDB e recebeu R$ 3,2 milhões do JBS. Os peemedebistas controlam há décadas a Superintendência Regional de Agricultura e Pecuária no Estado.
O atual superintendente é José Antônio Felício, que foi secretário de Desenvolvimento Agrário na gestão de André Puccinelli (PMDB). O partido controla o órgão há décadas.
O PP aparece como o principal beneficiado, ao lado do PMDB, no país. No entanto, em Mato Grosso do Sul, o candidato a governador da sigla, Evander Vendramini, recebeu apenas R$ 84 mil (80% do valor arrecadado) do JBS, menos que o candidato do PT, Delcídio do Amaral, com R$ 214,8 mil.
A operação prendeu dirigentes do JBS e BRF Foods, que estariam envolvidos no suborno de fiscais agropecuários para vender carne imprópria para o consumo. Houve até venda de produtos estragos para a merenda na rede pública de Curitiba.
A operação cumpriu 27 mandados de prisão preventiva e 11 de temporária nos estados do Paraná, São Paulo, Distrito Federal, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás. O escândalo terá grande reflexo no mercado internacional e pode prejudicar as exportações brasileiras de carne.
O mercado da carne é um dos mais sensíveis e disputados do mundo. A obtenção de alvará para a exportação é uma grande luta dos produtores rurais brasileiros. Ao divulgar que houve até venda de carne estragada ou derivado do frango embalado com papelão, a credibilidade ficará abalada e o país deve registrar queda nas exportações.
O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que estava de licença por 10 dias apesar de estar no cargo há menos de um ano, voltou ao trabalho em regime de urgência. Ele determinou o afastamento dos envolvidos na fraude e classificou o esquema como “crime contra a população brasileira”.
O MNP (Movimento Nacional dos Produtores Rurais) divulgou nota para demonstrar a indignação com os crimes revelados e demonstrar apoio à operação da Polícia Federal. A entidade prevê que a operação causará uma grave crise no mercado, econômica e institucional.