A superlotação nos hospitais e postos de saúde é aquele tipo de problema que só piora, apesar da gente achar que não é possível ficar pior. No entanto, apesar da calamidade no setor, o prefeito da Capital, Marquinhos Trad (PSD), planeja fechar hospital. No cargo há dois anos, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) parou obras importantes para tirar o crédito do antecessor e ainda pagou R$ 28,8 milhões para empresa do interior de São Paulo, contratada sem licitação.
As mortes na rede pública de saúde estão se transformando rotina e tragédia diária na vida de centenas de famílias, que sofrem com a impotência da falta de recurso enquanto um ente querido morre por falta de atendimento adequado.
O problema é antigo, piora a cada dia. Para desalento da população, a cada novo gestor, a incompetência é a mesma. Marquinhos não só não conseguiu adotar medidas para cumprir as exigências da Vigilância Sanitária, como decidiu ser cruel: planeja fechar o Hospital da Mulher das Moreninhas, com 12 leitos.
A unidade já foi exemplo no atendimento do parto humanizado. Era tão boa, que sempre serviu como hospital referência para os atendimentos no caso de epidemia do vírus da gripe e do Ébola.
É mentira que a cidade não precisa de mais uma maternidade. O Hospital Universitário fechou a maternidade por falta de recurso. Referência no atendimento de gravidez de risco, a unidade é mais um departamento atingido pelo colapso financeiro da unidade. De acordo com o Correio do Estado, o HU gasta R$ 4,7 milhões por mês, mas só vem recebendo R$ 1,8 milhão.
O Hospital Regional de Mato Grosso do Sul Rosa Pedrossian está com doentes jogados nos corredores, porque superou os limites humanos de superlotação, apesar da faixa na entrada, indicando que o PAM (Pronto Atendimento Médico) está fechado.
A mesma situação encontra-se a Santa Casa. Apesar da calamidade no setor, não houve nenhuma, nenhuma reunião do prefeito para discutir medidas para resolver ou amenizar a situação.
Apesar da Capital ter gestão plena, o Governo estadual tem responsabilidade, porque a demanda do interior sobrecarrega o sistema de Campo Grande. A saúde pública sente os reflexos das primeiras medidas de Reinaldo.
Logo após a posse, ele decidiu cancelar a construção do hospital em Dourados, onde já tinham sido gastos R$ 500 mil. Ele também solicitou ao antecessor, para que cancelasse o empenho de R$ 20 milhões para a obra.
O tucano também suspendeu o processo para a construção do hospital de Três Lagoas, orçado em R$ 56 milhões e com capacidade para 138 leitos. A licitação foi relançada em setembro do ano passado. Contudo, o dinheiro já estava garantido em financiamento do BNDES desde 2014.
Agora, relança as duas obras com dois anos de atraso e como se fossem iniciativa do atual Governo. Não discuto estratégia política, já que cada um tem a sua. No entanto, quantos vão morrer para que o crédito de uma obra passe de um gestor para outro?
Quando o poder público deseja resolver a situação, há caminhos. Reinaldo contratou o Instituto de Olhos Fábio Vieira, de Ribeirão Preto (SP), sem licitação, apesar de dezenas de institutos e clínicas voltadas para o atendimento oftalmológico em Mato Grosso do Sul. A empresa paulista recebeu R$ 28,8 milhões em 2015 e 2016, segundo o Portal da Transparência.
Além do caos nos hospitais, a prefeitura ainda não comprou remédios para suprir o estoque nos postos de saúde. Atingida pela crise econômica e pelo desemprego, a população está sendo obrigada a comprar remédios. O secretário de Saúde, Marcelo Vilela, disse à TV Morena, no início deste mês, que só terá medicamentos em todas as unidades de saúde em 90 dias. Hoje, ele reduziu o prazo para 20 dias, de acordo com o Correio do Estado.
A situação só vai mudar quando a sociedade perceber que a saúde pública é de todos e deve ser prioridade. A solução passa por vontade política, combate à corrupção, fim da terceirização e fiscalização eficiente.
Enquanto for moeda de campanha, a solução não vira e muitos morrerão, infelizmente.