Empresários pagaram R$ 3,1 milhões em propinas para o advogado e procurador da Câmara Municipal, André Luiz Scaff, para terem contratos na Prefeitura de Campo Grande, nas gestões de Nelsinho Trad e Gilmar Olarte, e no Governo do Estado, na época sob o comando de André Puccinelli (PMDB). As informações constam da denúncia apresentada no dia 6 deste mês à Justiça pelo MPE (Ministério Público Estadual).
O “vereador sem voto”, como era conhecido Scaff, cobrava valores fixos. De acordo com a denúncia, o total movimentado em propina pode chegar a R$ 10,8 milhões, conforme levantamento realizado pela Receita Federal nas contas do advogado e da esposa, Karina Ribeiro Mauro Scaff.
Os promotores não conseguiram identificar os autores dos depósitos e transferências que totalizam R$ 3,045 milhões. O restante foi retirado do cruzamento dos rendimentos do casal e do dinheiro movimentado sem comprovação de origem.
Conforme a denúncia, o empresário André Luiz dos Santos abriu a empresa em 2007 e, logo em seguida, com a suposta ajuda de Scaff, conseguiu R$ 40 milhões em contratos com a prefeitura, na época, sob comando de Nelsinho, irmão do atual prefeito, Marquinhos Trad (PSD). Ele teria pago R$ 376,7 mil em propinas ao advogado.
Ary Dittmar Raghiant, da empresa Colleto Engenharia, pagou R$ 431,7 mil em propinas. Já Edmilson Rosa e Wanderson Prado Rorigues, da RMW Empreendimentos, depositaram 40 vezes na conta de Scaff, que recebeu R$ 688 mil. Apesar dele ser funcionário da Câmara, negociava contratos com o município, segundo a denúncia do MPE.
Para construir obras do município, como centros de educação infantil, Conrado Jacobina Stephanini, da Stenge Engenharia, pagou propina de R$ 240 mil ao advogado. Reginaldo João Bacha depositou R$ 350 mil para garantir contratos para duas empresas, MB Indústria Comércio e Contrução e Ciacon Construção.
Juarez Falcão Alves, da Mov Flex, pagou R$ 20 mil e conseguiu contratos com a prefeitura e com secretarias estaduais. A RPS Publicidade, de Sandra Maristela Velho Mondragon, pagou R$ 34,6 mil a André Scaff.
O famoso empresário João Alberto Krampe Amorim, já envolvido na Lama Asfáltica, também foi denunciado por pagar R$ 149 mil em propinas. Ele teria firmado contratos milionários por meio da Proteco.
A única que pagou R$ 270,7 mil em vantagem pecuniária para manter o contrato com a Câmara Municipal, conforme a ação civil pública, foi Andreia Silva de Lima, da empresa N&A Informática. Ela tem contrato com o legislativo municipal desde 2006.
Os empresários negaram a existência de propinas. Em depoimento ao MPE, eles atribuíram os pagamentos ao advogado e esposa à quitação de empréstimos para o pagamento de pessoal.
Houve algumas exceções, como a Selco Engenharia, que depositou R$ 105 mil na conta de Scaff. No entanto, os donos (Abimael Lossavero e Uilson Domingos Smioli), que mantiveram contratos com a prefeitura, alegaram que nunca tiveram nenhum negócio com Scaff.
A mesma explicação foi dada por Olmar Aparecido Moura, da RCE Comércio de Produtos de Limpeza, que pagou R$ 40 mil.
Mais sincero foi Guilherme Muller, que repassou R$ 48,7 mil ao procurador da Câmara e ganhou contratos com a Agehab (Agência Estadual de Habitação). Ele admitiu que ganhou sem participar de licitação.
O MPE ainda denunciou os empresários Ricardo Schettini (R$ 78 mil), Orlando Torres, da GT Engenharia (R$ 264,3 mil) e as empresas DDK Promoções e Eventos e DBM Contrutora e Consultoria (pagamento de R$ 62,7 mil, mas o proprietário, Dalton Roberto de Melo Franco é falecido).
Importante destacar que, apesar de citados na ação, os ex-prefeitos e o ex-governador não foram denunciados. A Justiça acatou o pedido do MPE e decretou a indisponibilidade dos bens do casal Scaff.
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