O MPF (Ministério Público Federal) não vem tendo boa vontade apenas com o presidente nacional do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves. Sob o comando de Rodrigo Janot, o órgão também mantém “bons olhos” para analisar as denúncias contra os tucanos de Mato Grosso do Sul. Depois do deputado federal Elizeu Dionizio, o procurador-geral arquivou o pedido de investigação contra o governador Reinaldo Azambuja (PSDB).
Em carta ao diretório regional do PT, encaminhada no final do mês passado, o vice-procurador-geral da República, José Bonifácio Borges de Andrada, informou o arquivamento da denúncia do suposto envolvimento de Azambuja com o narcotraficante Vilmar Acosta.
O ex-prefeito da cidade paraguaia de Ypejhú, na fronteira com Paranhos, foi preso acusado de matar o jornalista Pablo Medina e sua assistente Antonia Almada. Durante a investigação, em dezembro de 2014, uma comissão do Senado paraguaio levantou a suspeita do envolvimento de políticos com os criminosos da fronteira. Um dos citados foi o governador, que tinha acabado de ser eleito.
Para chegar a conclusão de que a denúncia deveria ser arquivada, a equipe de Janot se baseou apenas nas matérias de jornais anexadas ao pedido de investigação feito pelo PT/MS. Não foi solicitada nenhuma informação ao Paraguai ou a outro órgão qualquer.
“A mera existência de laços estreitos não configura abertura de procedimento criminal”, justifica o procurador regional da República Maurício Gotardo Gerun, que atua na Procuradoria-Geral da República. Ele até cita declaração feita pelo governador ao jornal O Estado de Mato Grosso do Sul em que nega qualquer relação com o narcotraficante e um dos maiores criminosos da fronteira.
A mesma linha de bondade foi adotada em relação a Elizeu Dionizio, que foi “absolvido” de qualquer investigação na Operação Coffee Break.
A denúncia de que uma organização criminosa articulou o golpe para cassar o mandato de Alcides Bernal (PP) é o maior escândalo, até o momento, na história de Campo Grande. O MPE reuniu vasta documentação para comprovar o crime de corrupção passiva e ativa e associação criminosa para denunciar 24 políticos e empresários.
O chefe do MPE, Paulo Cezar dos Passos, denunciou até o ex-governador André Puccinelli (PMDB), que nem era vereador. O peemedebista também não teve conversas gravadas, como a vice-governadora Rose Modesto (PSDB), em que ela negociava o apoio à cassação em conversa telefônica com Gilmar Olarte, que acabou preso em outros casos de corrupção. Rose também não foi denunciada até o momento.
Contudo, Janot isentou Elizeu Dionizio, que foi relator da CPI do Calote e teve participação ativa na cassação de Bernal em março de 2014. O chefe do MPF teve tanta certeza da inocência do tucano, que nem requisitou documentos e depoimentos para ter subsidiar a decisão.
A mesma sorte não tiveram outros vereadores da época, que acabaram denunciados na Operação Coffee Break. Com a decisão de Janot, Dionizio chegará as eleições de 2018 mais forte, com cacife, respaldado pelo apoio evangélico, para pleitear o cargo de vice-governador nas próximas eleições.
Já Azambuja segue sem qualquer investigação no currículo, enquanto aposta no desgaste do principal adversário, Puccinelli, considerando-se a demora da Justiça em julgar os casos nebulosos e que são usados para manchar a honra pela suspeição apenas.