É infeliz e triste a cidade em que as autoridades agem para banir a alegria, a festa e a música. Os últimos acontecimentos se assemelham aos desenhos infantis ou filmes de aventura, nos quais as forças do mal vão tomando poder e cobrindo a região pela sombra, tirando a luz, o sol e sugando a felicidade do lugar.
A dúvida é saber se Campo Grande deixará de realizar a tradicional folia na Esplanada Ferroviária por incompetência das autoridades ou vingança? Ou seria por que o prefeito Marquinhos Trad é evangélico e usa o poder para acabar com todo que considera blasfêmia?
Desde que os blocos dos sujos deixaram de desfilar no carnaval da 14 de Julho nos anos 90, o carnaval definhou e perdeu força na Capital. Enquanto cidades do interior ficavam lotados com suas folias, Campo Grande foi vendo os clubes ficarem vazios e a Avenida Fernando Corrêa da Costa se transformar no grande rolezinho.
No entanto, a festa ainda tinha o apoio do Estado e da Prefeitura.
Nesta década, os campo-grandenses conseguiram resgatar a alegria e a força dos blocos de carnaval. Além de resgatar a tradição, os grupos conseguiram destacar a importância de se preservar o patrimônio histórico, no caso, a Esplanada Ferroviária, assim como acontece no centro velho de Recife, no Pelourinho em Salvador e nas cidades históricas de Minas Gerais.
Neste carnaval, em cada noite, os blocos chegaram a arrastar de 20 mil a 25 mil foliões na esplanada. Entre os foliões, estavam pais, avós, crianças, adolescentes e jovens, uma festa da família.
Infelizmente, bastou um incidente com a turma do funk no encerramento, para que as autoridades decidissem acabar com a festa.
A primeira a vetar a festa foi a superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico, Norma Daris Ribeiro, que viu ameaça aos edifícios tombados e cobrou mais segurança. Fica a dúvida se o órgão agiu politicamente para atender interesses, porque o órgão já ficou famoso na Bahia, ao desconsiderar o interesse coletivo e autorizar a construção de um prédio para beneficiar o então ministro Geddel Vieira Lima. Na Bahia, a obra só não foi construída porque houve intervenção da direção nacional do órgão.
A segunda foi a Polícia Militar, que não se responsabilizou pela segurança. Fica difícil de entender, como o contribuinte paga um dos impostos mais caros do país, mas a tropa, sob o comando do tucano Reinaldo Azambuja, nega-se a garantir o mínimo. Em todos os carnavais, desde Marcelo Miranda, a PM sempre garantiu a segurança para a realização do carnaval de rua na Capital.
Em todos os anos anteriores, os prefeitos sempre garantiram a realização do evento. Nelsinho Trad, irmão do atual prefeito, garantia a locação de banheiros químicos, estrutura e até segurança privada para a realização da festa. Será que o atual prefeito deixou-se contaminar pela religião para trabalhar contra a festa, que levou mais de 80 mil pessoas à Esplanada Ferroviária em quatro dias.
É lamentável que as forças do mal tenham ganhado força e acabado com a alegria, a festa da família campo-grandense. Tem gente que não gosta de folia, tem, mas deve respeitar quem curte a folia secular e tradicional. Não é a toa que o Carnaval não é feriado, mas a maioria não trabalha neste dia.
Os monstros não agem apenas contra o carnaval. Já lutam contra a realização da Expogrande e até já estragaram várias edições ao manter a proibição de shows com o aval da Justiça.
O esforço para transformar Campo Grande em uma cidade do silêncio e sombria é tão grande, que até eventos religiosos com músicas só são permitidos após investimentos pesados em isolamento acústico.
Houve até o caso de uma casa de eventos localizada no meio do nada quase ser fechada porque não tinha isolamento acústico. O empresário quase desistiu do negócio, porque foi obrigado a gastar horrores apesar da propriedade ficar numa região de chácaras e fazendas, onde o vizinho mais próximo ficava a quilômetros de distância.
É lamentável que o esforço do poder público seja de acabar com a festa e não de garantir condições para que as famílias tenham paz ao curtir a folia mais popular do Brasil.