A revolução causada pelo Uber é interessante, porque conseguiu burlar o poderosíssimo consórcio das cinco empresas de ônibus que reinam desde sempre em Campo Grande. O aplicativo deve ser regularizado para garantir a segurança aos usuários, mas o prefeito Marquinhos Trad (PSD) não pode olhar no retrovisor para regulamentar o serviço.
A reportagem do Correio do Estado mostra quem vem pressionando nos bastidores para encarecer o serviço prestado pelo Uber na cidade. Funcionários do consórcio Guaicurus foram flagrados gravando motoristas do Uber no Centro da Capital.
A máfia dos táxis tem poder, mas não se compara ao das empresas de ônibus. Sempre se suspeitou que as cinco empresas pertenciam à família Constantino – fato sempre negado pelo grupo. Em 2012, o então prefeito Nelsinho Trad oficializou a “máfia”, já que as cinco formaram o consórcio Guaicurus e venceram a licitação para “renovar” o setor.
As concessionárias do transporte coletivo sempre contaram com a Agetran (Agência Municipal do Transporte e Trânsito) como um órgão auxiliar. Tanto que as empresas contam o número de passageiros, fiscalizam o passe do estudante e a qualidade do serviço e fazem os relatórios para o órgão municipal validar.
O poder é amplo e irrestrito. No caso do reajuste da tarifa, qualquer sinal de que não será autorizado, o sindicato dos trabalhadores ameaça greve ou até paralisa o serviço como “sinal”. Isso ocorreu no ano passado, quando o então prefeito “da mudança”, Alcides Bernal (PP), autorizou o último reajuste, porque “estava previsto no contrato”.
Quando as vans ameaçaram entrar na cidade para fazer o transporte de passageiros, as empresas de ônibus colocaram fiscais em todos os cantos para realizarem o flagrante e acionarem a Agetran e a polícia de trânsito para prender o “meliante”.
No entanto, o Uber conseguiu driblar o cartel ao oferecer um serviço de qualidade e barato. Isso só será possível com a manutenção do atual modelo, com o mercado regulando o serviço, ficando o número suficiente para atender a demanda e com valor acessível.
Marquinhos Trad publicou o decreto para restringir o número de prestadores de serviço. É um decreto feito para contemplar um grupo e não toda a sociedade campo-grandense.
Ele bradou em entrevistas que exigirá qualidade do Uber. Pena que não adotou a mesma voracidade para cobrar melhoria no transporte coletivo, que é ruim, superlotado e caro. Se o serviço fosse bom, os trabalhadores iam com prazer de ônibus para o trabalho, porque fugiriam do estresse do trânsito e da dor de cabeça em garantir vaga em estacionamento.
O Uber é o único serviço que põe os brasileiros em igualdade com os habitantes do primeiro mundo. Espera-se que os políticos, movidos e financiados pelo atraso, não nos tirem esse privilégio.