A audiência de instrução e julgamento do advogado Rodrigo Souza e Silva, filho do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), e dos sete integrantes da quadrilha contratada para roubar a propina de R$ 300 mil vai ocorrer a partir das 13h30 do dia 30 deste mês. Como as testemunhas de acusação e as vítimas são as mesmas nos dois processos, a juíza May Melke Amaral Penteado Siravegna, da 4ª Vara Criminal de Campo Grande, uniu as ações para dar maior celeridade ao caso.
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Os processos tramitavam separadamente. A magistrada tinha aceitado a denúncia por roubo majorado contra os acusados de executar o roubo, mas rejeitou a ação penal contra o mandante, o herdeiro do tucano. No entanto, a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul aceitou o recurso do Ministério Público Estadual e tornou Rodrigo réu pelo roubo.
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Conforme despacho da magistrada, publicado no Diário Oficial do Tribunal de Justiça, o julgamento começa três anos e sete meses após o assalto. “Ficam as defesas intimadas da decisão de fls. 857/858: “Outrossim, visando o prosseguimento do feito, designo audiência PARA OITIVA DAS TESTEMUNHAS ARROLADAS NA DENÚNCIA para o dia 30 de junho de 2021, às 13 horas e 30 minutos (mesmo dia e horário da audiência designada nos autos 0900460-22.2018.8.12.0001, porquanto se trata do mesmo fato com testemunhas comuns, apenas com um dos réus tendo sido denunciado separadamente, e visando a celeridade do feito e não repetição de atos (oitiva das mesmas testemunhas sobre os mesmos fatos em processos diversos), na qual serão também colhidos os depoimentos das vítimas”, determinou a magistrada.
Além de Rodrigo Souza e Silva, o primo do governador, o sargento da Polícia Militar, Hilarino Silva Ferreira, também é réu no processo. Eles são acusados de contratar um grupo para roubar a propina destinada a comprar o silêncio do corretor de gado José Ricardo Guitti Guímaro, o Polaco.
Conforme a denúncia do MPE, Polaco passou a receber dinheiro para não fazer delação premiada logo após o escândalo causado pela delação premiada da JBS, de que pagava propina a Reinaldo em troca de incentivos fiscais.
A história surreal começou no dia 27 de novembro de 2017 com o assalto na BR-262. O comerciante Ademir José Catafesta, de Aquidauana, teve o veículo roubado por um grupo de criminosos. Só que o carro acabou sendo recuperado no Jardim Seminário, na Capital, pelo Batalhão de Choque. Ao investigar o crime, os policiais militares prenderam todos os envolvidos no assalto.
O chefe o grupo, o aposentado Luiz Carlos Vareiro, o Véio, revelou que era laranja de uma construtora, com contratos milionários com o poder público, e tinha sido contratado para roubar a propina de Polaco. A versão foi corroborada por outros integrantes do grupo. A tese acabou sendo reforçada pela quebra do sigilo telefônico.
Os promotores Marcos Alex Vera de Oliveira e Clóvis Amauri Smaniotto denunciaram pelo roubo Vareiro, Hilarino, o despachante David Cloky Hoffmann Chita, Jozué Rodrigues das Neves, o Cézar Cantor, Vinícius dos Santos Kreff, Fábio Augusto de Andrade Monteiro e Jefferson Braga de Souza, o Jê.
Em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, Vareiro chegou a revelar que o plano era matar Polaco. No entanto, o corretor de gado teria escapado em duas ocasiões. Na primeira, ele teria vindo receber a suposta propina com o filho. Na segunda, ele enviou o comerciante para receber o dinheiro.
Além dos depoimentos das testemunhas e dos réus, o MPE conseguiu imagens das câmeras de segurança de um supermercado localizado na Rua Joaquim Murtinho, onde teria ocorrido a entrega do dinheiro.
Após ouvir as testemunhas e os réus, a magistrada dá prazo para as alegações finais e poderá publicar a sentença. Rodrigo foi denunciado junto com o pai por integrar organização criminosa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso da propina de R$ 67,791 milhões da JBS. Esta denúncia tramita no Superior Tribunal de Justiça.
O advogado ainda foi alvo da Operação Motor de Lama, denominação da 7ª fase da Lama Asfáltica, em que a Polícia Federal investiga desvios no Detran e pagamento de propina ao filho de Reinaldo. Ele nega as irregularidades, mas conseguiu tirar a investigação das mãos do juiz Bruno Cezar da Cunha Teixeira, da 3ª Vara Federal de Campo Grande.