Rosana Leite de Melo passou a usar os plantões para elevar o próprio salário em até 141% e chegou a ganhar R$ 46,1 mil no mês durante a pandemia da covid-19. Apesar de ganhar adicional de função e ocupar o cargo de diretora-presidente do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul, a médica dobrou o salário de R$ 19.082,48 desde março deste ano, quando o coronavírus chegou ao Brasil.
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O aumento “extra” no salário ocorreu justamente no período em que os demais profissionais de saúde, trabalhadores da enfermagem e médicos, não tiveram reajuste pelo segundo ano consecutivo. O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) alegou falta de recursos e gasto no limite previsto na Lei de Responsabilidade Fiscal para manter os vencimentos do funcionalismo congelado. Não houve reconhecimento nem para o heroico trabalho na linha de frente no combate à covid-19.
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No entanto, a crise não atingiu a dirigente do HR. Conforme o Portal da Transparência, Rosana recebeu adicional eventual de R$ 8,5 mil a RR$ 27 mil por mês durante a pandemia. O menor valor foi pago em março. De abril a setembro deste ano, o acréscimo sempre foi de dois dígitos: R$ 14,3 mil em abril, R$ 18,2 mil em maio, R$ 27 mil em junho, R$ 0,5 mil em julho, R$ 18,1 mil em agosto e R$ 20,9 mil em setembro deste.
O principal fator do acréscimo no salário é o pagamento de plantões. O Jacaré conseguiu detalhes do holerite de Rosana Leite no mês de agosto, quando foram pagos R$ 37.238,47. Desse total, houve acréscimo de R$ 18.155,99, sendo que 60% deste valor é referente ao pagamento de plantão (R$ 11 mil).
O Governo pagou 96 horas de plantão em agosto para a presidente do HR, que tem cargo comissionado com dedicação exclusiva. A prática se repetiu em outros meses, mesmo com a médica recebendo salário para se dedicar integralmente ao hospital.
Graças aos plantões, Rosana passou a receber, desde maio deste ano, mais que o governador Reinaldo Azambuja, que tem subsídio de R$ 35.462,27.
No ano passado, conforme o Portal da Transparência, Rosana recebeu de R$ 200 (o abono salarial) até R$ 3.537,82 de acréscimo. Ela assumiu o cargo de presidente do HR em novembro do ano passado. O pagamento dos plantões, que praticamente dobraram o seu salário, começou a ocorrer durante a pandemia da covid-19.
Referência no combate à pandemia, o HR gastou uma fortuna para montar um hospital de campanha que acabou não sendo utilizado para receber os infectados pelo coronavírus. Mato Grosso do Sul acabou desmontando o acampamento sem utilizá-lo quando 90% dos leitos de UTI estavam ocupados na Capital.
O Estado acabou se tornando o único no País que construiu uma estrutura para atender as vítimas da pandemia, mas que a desativou porque os leitos não eram adequados. A Secretaria Estadual de Saúde sul-mato-grossense se preparou como se tivesse enfrentando uma epidemia de dengue.
Quando foi indicada para assumir o hospital, Rosana já era ré por improbidade administrativa por acúmulo ilegal de cargos públicos. Ela tinha contratos de trabalho para 76 horas semanais. Ela recebia R$ 41,7 mil por mês como médica do HR e do Hospital Universitário e professora da UFMS, sem contabilizar as atividades no consultório e instituições particulares.
Diretora do HR não possui dedicação exclusiva, diz Secretaria de Saúde
A Secretaria Estadual de Saúde informou que a diretora-presidente do HR, Rosana Leite de Melo, recebeu pelos plantões porque não “possui dedicação exclusiva”. O mais curioso ainda é que, apesar de comandar o 2º maior estabelecimento hospitalar do Estado, a médica tem jornada de 36 horas.
“Todos os pagamentos foram feitos dentro da lei. A carga horaria é de 36h. Os plantões são referentes aos serviços prestados nos finais de semana na organização do hospital e também referentes a cirurgias de cabeça e pescoço, atendimentos ambulatoriais e pareceres”, explicou a assessoria.
MS passa a ter algo raro: o comandante da empresa não trabalha nem 40 horas, como ocorre em qualquer atividade considerada normal. O HR vive marcado por crises, desde a falta de remédios, insumos hospitalares e até alimentação para os pacientes.