Inaugurado há um ano, no dia 25 de março do ano passado, o Hospital do Trauma continua sem repasse do Ministério da Saúde, do Governo do Estado e da Prefeitura de Campo Grande. Sem dinheiro, a unidade desativou cinco centros cirúrgicos e mantém 49 leitos vazios. Enquanto isso, 73 doentes em estado grave agonizavam nesta quarta-feira em leitos improvisados nos postos de saúde da Capital.
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A tragédia na saúde não sensibiliza a classe política, que só fez festa em 2018 porque era de eleições. Inaugurado com festa pelo então ministro da Saúde, Ricardo Barros, pelo governador Reinaldo Azambuja (PSDB) e Marquinhos Trad (PSD), o hospital ficou fechado por seis meses e só começou a funcionar parcialmente na véspera do primeiro turno.
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A ativação bastou para a obra ocupar grande espaço no horário eleitoral do tucano, como exemplo de investimento em saúde. Para convencer a Associação Beneficente a ativar os leitos, Reinaldo e Marquinhos assumiram o compromisso de repassar R$ 10 milhões, sendo R$ 6 milhões do ministério, R$ 2 milhões do Estado e R$ 2 milhões da prefeitura.
Com a reeleição de Reinaldo no segundo turno, o acordo acabou não cumprido. Nos últimos seis meses, o estabelecimento só recebeu R$ 900 mil do Ministério da Saúde em dezembro. Nenhum centavo foi desembolsado pelo Ministério da Saúde neste ano, agora sob o comando de Luiz Henrique Mandetta, que foi o responsável pela transformação da maternidade em unidade voltada para atender vítimas de trauma.
Sem financiamento, a Santa Casa fechou as cinco salas de cirurgia. Por enquanto, a entidade se esforça em manter o funcionamento de 61 leitos, sendo 10 de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo).
“Com os recursos próprios já contratados de 39 leitos de ortopedia do prédio principal transferimos e estamos com 51 leitos (dois andares) funcionando no novo prédio”, contou o presidente da Santa Casa, Esacheu Nascimento. “Nenhum recurso novo para o trauma até agora”, lamentou.
Como só tem dinheiro para contratar e dar reajuste de 16% para comissionados, o Governo não cumpriu a promessa de repassar R$ 2,5 milhões por mês, em nova negociação com o Ministério Público.
A Prefeitura da Capital, que pedalou R$ 107 milhões no Orçamento de 2018, ficou livre da obrigação de repassar o dinheiro, porque já repassa valor alto para a Santa Casa.
Há mais de ano, a Justiça concedeu liminar para obrigar o Governo e a prefeitura a garantir a abertura de leitos hospitalares e acabar com o improviso nas UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e centros regionais de saúde.
O município e o Governo do Estado decidiram ignoram a decisão da Justiça e o acordo com o Ministério Público. Enquanto o Hospital do Trauma segue vazio, pacientes ficam em leitos improvisados e alguns até esperam vaga em UTI, correndo o risco de morrer por falta de vaga.
A Secretaria Municipal de Saúde confirmou o elevado número de pacientes internados nos postos de saúde. “Diariamente mais de 100 pessoas são reguladas para as unidades hospitalares”, confirmou a assessoria.
O município prefere comemorar o fim da superlotação nos corredores da Santa Casa. “A partir da unificação da regulação, os pacientes são primeiramente direcionados as UPAs e CRSs e posteriormente encaminhados aos hospitais. Isso garantir uma redução de 50% no fluxo do PS da Santa Casa, por exemplo. Onde no passado tínhamos centenas de pessoas amontoadas nos corredores, hoje a realidade é diferente”, enfatizou.
Uma das causas do sofrimento de centenas de pacientes foi o rompimento do convênio pelo prefeito Marquinhos com o Hospital do Pênfigo e a compra de leitos em outros hospitais, como El Kadri.
“Estamos em negociação com o Hospital do Pênfigo para disponibilização de mais 42 leitos e aguardando uma definição quanto a Unidade do Trauma, que deve ser financiado pelo Governo Federal e Governo do Estado”, informou a assessoria do secretário municipal de Saúde, Marcelo Vilela.
Sobre o fim do convênio com o Pênfigo, o motivo foi a falta de certificação para atendimento filantrópico. O hospital teria providenciado a documentação e o convênio será retomado.
O problema é a demora em resolver o problema.
A inauguração fake do Hospital do Trauma completa um ano. Reinaldo enfatizou que concluiu uma obra parada por duas décadas, mas resiste em financiá-la.
Até quando a população vai achar isso normal? E os vereadores, que representam o povo, vão ficar em silêncio até as eleições de 2020, quando vão tentar a reeleição?
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