Caso a Polícia Federal e o STJ (Superior Tribunal de Justiça) encontrem provas de que houve o pagamento de R$ 38,4 milhões em propinas ao governador Reinaldo Azambuja, como acusam os delatores da JBS, Mato Grosso do Sul não terá instituições isentas para comandar as investigações.
Na semana passada, sem ao menos analisar os indícios ou abrir procedimentos, mais como atitude desesperada para salvar o chefe do Poder Executivo, os conselheiros do TCE (Tribunal de Contas do Estado) e o procuradores de Justiça assumiram, sem escrúpulos, o lado tucano das instituições de fiscalização e já atestaram, a quem possa interessar, a inocência do governador.
No atual momento do Brasil, em que a Justiça tem se mostrado implacável e a população cobra a punição dos corruptos sem dó nem piedade, é temeroso por as mãos no fogo pelos suspeitos.
Acuados e sob investigação, outros podem aderir à delação premiada e entregar mais provas. Os irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, podem apresentar mais provas, como um vídeo. O grupo vinha negociando a delação premiada desde o ano passado, ou seja, eles já vinham reunindo todas as provas possíveis para sustentar as denúncias.
A situação dos envolvidos na delação homologada pelo Supremo Tribunal Federal é superdelicada e de muita apreensão.
Conforme a delação, Azambuja teria recebido R$ 38,4 milhões em propinas, sendo R$ 10 milhões em espécie e R$ 28,4 milhões por meio de notas falsas, que teriam sido entregues em mãos pelo próprio e na Governadoria.
O valor destinado ao governador sul-mato-grossense é o maior revelado até o momento e supera os outros quatro sob suspeita, conforme as revelações feitas até o momento.
Conforme a delação premiada da JBS, houve pagamento de propinas:
Mato Grosso do Sul – Reinaldo Azambuja (PSDB) – R$ 38,5 milhões
Santa Catarina – Raimundo Colombo (PSD) – R$ 27 milhões
Ceará – Camilo Santana (PT) – R$ 20 milhões
Rio Grande do Norte – Robinson Faria (PSD) – R$ 5 milhões
Rio Grande do Sul – Ivo Sartori (PMDB) – R$ 1,5 milhão
Azambuja tem reiterado que a delação é retaliação de bandidos e desqualifica, de forma veemente, as denúncias. Ele diz que houve aumento do ICMS pago pelo grupo. No entanto, não desmente o principal, que foi a concessão dos incentivos, que livraram a JBS de pagar quase R$ 1 bilhão em impostos por 12 anos.
Em 2015, quando houve a denúncia da Coffee Break, o chefe do MPE, Paulo Cezar dos Passos, foi acusado de beneficiar a vice-governadora, Rose Modesto (PSDB), que votou pela cassação de Alcides Bernal (PP) e até foi gravada em conversas suspeitas com Gilmar Olarte, mas acabou excluída da denúncia da compra de vereadores.
Na época, ele negou e, constrangido, até anunciou a abertura de investigação suplementar para incluir a vice. Dois anos depois, o inquérito não foi concluído.
A esposa de Passos, Jaceguara Dantas, até concedeu entrevista aos assessores do governo para destacar a isenção do tucano na apuração dos fatos. “O que víamos em outros governos era a tentativa de silenciar os promotores”,disse a procuradora, revelando algo gravíssimo e nunca denunciado pelo MPE.
O ex-chefe do MPE, Humberto Brites, recorreu ao patrimônio do governador para ressaltar que ele não se envolveria em corrupção. Aliás, esta é a grande surpresa, como um dos homens mais ricos do Estado, com R$ 38,5 milhões declarados à Justiça Eleitoral, fosse se envolver em suspeitas de propina e, pior, ainda fosse capaz de chorar em público, mostrando-se debilitado pelas acusações.
O eleitor sul-mato-grossense também não esperava que o governador mais rico fosse direcionar obras de pavimentação, as primeiras da sua gestão, para contemplar acessos às suas fazendas em Maracaju.
O TCE também atestou que conduta do governador. O presidente da corte fiscal, Waldir Neves, que foi deputado estadual e federal pelo PSDB, disse que está tudo correto com a administração estadual.
O julgamento das contas de Reinaldo será feito pela conselheira Marisa Serrano, tucana notória até ser indicada pelo ex-governador André Puccinelli (PMDB) para compor o conselho do TCE. Ela foi deputada federal, candidata a governadora e senadora pelo PSDB. Deveria se declarar impedida de avaliar as contas do tucano, mas age com a certeza de isenção.
Ao povo de MS, só restou à esperança de que a investigação será conduzida por Brasília. Graças ao bendito foro privilegiado, Reinaldo não será investigado pelos deputados estaduais, que já receberam cinco pedidos de impeachment, ou pelos “amigos” do MPE.
O destino do governador está nas mãos do STJ.
Até a prova em contrário, Reinaldo é inocente, apesar dele não ter usado este critério para os inimigos. Veja as denúncias contra Delcídio do Amaral, na época da campanha, quando ele ocupava o horário eleitoral para chamar os adversários petistas de ladrões e integrantes de facção do crime organizado.
Para ser justo, vamos julgá-lo como o governador tem se portado, que se faça a investigação para atestar a sua inocência, mas com isenção e credibilidade.
Porque ele estaria em apuros, se fosse analisado por adversário com o mesmo discurso que fez como candidato em 2014.